Pela terceira vez, cumprindo a aparente tradição atual de fazer trilogias, Michael B. Jordan volta à pele de Adonis Creed. Em Creed III (2023), o sujeito está aposentado dos ringues, trocou o calção por ternos e se tornou empresário. Pela primeira vez em toda a franquia Rocky, alguns assuntos espinhosos são tratados, o que deve ter sido a causa do afastamento voluntário de Sylvester Stallone, que disse em entrevistas que “não queria ver seus heróis em lugares sombrios”, e Jordan ainda aproveitou para estrear como diretor.
Novamente com uma história de Ryan Coogler, diretor do primeiro filme, Jordan faz um trabalho seguro na direção, aproveitando para homenagear a franquia em algumas cenas, fazer interessantes contrapontos a momentos famosos e até inovar, criando belas sequências de luta. A corrida na colina do letreiro de Hollywood é bem simbólica, afirmando o astro que Creed se tornou e o espetáculo que será protagonizado por ele.
Como sempre acontece, o filme só funcionaria se houvesse uma boa desculpa para trazer Adonis de volta e se ele tivesse um bom antagonista. Para essa vaga, foi escolhido um dos nomes mais requisitados do momento: Jonathan Majors, atualmente em cartaz como o novo vilão do MCU, Kang, em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (2023). A química entre os dois é ótima, a forma física em que estão exigiu treinamento extenuante e a ligação entre os dois no passado é perfeitamente crível.
Quando reencontramos Creed, ele está com uma vida bem confortável. Uma esposa fantástica, uma filha espertíssima e uma nova carreira como empresário do boxe. Longe dos ringues há três anos, ele sente falta, mas acha que sua época passou. Um amigo há muito distante reaparece e dá uma chacoalhada na situação, forçando Creed a reavaliar a sua vida. Ao contrário do filme anterior, Tessa Thompson tem muitas chances de brilhar como Bianca, que vive seu próprio dilema.
É possível fazer paralelos entre os lutadores principais e seus intérpretes. Jordan apareceu de uma vez, chamando a atenção em filmes como Poder Sem Limites (Chronicle, 2012) e Fruitvale Station (2013), e hoje é um grande astro. Majors explodiu com a série Lovecraft Country e hoje tem vários projetos simultâneos – e uma pequena passagem pela polícia quando mais jovem, por furto. É fácil perceber como eles se conectaram com as situações vividas por Adonis e Damian.
Umas boas doses de suspense misturadas ao drama dos personagens movimentam as coisas. O final de Creed III é facilmente previsível, mas, aqui, não é o que importa, e sim a jornada. Jordan faz boas escolhas para manter tudo emocionante e entrega um ótimo resultado, ainda mais por se tratar da primeira vez que comanda um filme. Estranha mesma é só a ausência de Stallone, já que Rocky certamente estaria por perto em vários momentos. Talvez o ator esteja pensando num próximo filme do ex-lutador, voltando a ter o seu próprio nome à frente da franquia.
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