Deveria existir um subgênero cinematográfico chamado “filmes revoltantes”. Nessa categoria, seriam enquadrados todos os longas sobre a luta de minorias por direitos, aqueles que mostram um passado não muito distante em que certos seres humanos não tinham as mesmas prerrogativas que outros. É nesse filão que se encaixa Till – A Busca Por Justiça (2022), que traz uma história triste e chega aos cinemas essa semana.
Criado em Chicago, norte dos Estados Unidos, o jovem Emmett Till (Jalyn Hall, de Shaft, 2019) passava pelas mesmas dificuldades que outros garotos de 14 anos e não percebia o racismo da mesma forma que acontecia no sul do país. Quando vai passear na casa dos tios em Money, Mississipi, se depara com um cenário completamente diferente, mas não tem maldade o suficiente para perceber o perigo que corria apenas por respirar – e ter a cor de pele “errada”.
Um dos crimes mais escabrosos dos EUA, o assassinato de Emmett transformou a mãe do menino inadvertidamente em uma ativista no Movimento pelos Direitos Civis. Mamie Elizabeth Till-Mobley não procurou encabeçar nenhum movimento, mas logo se tornou símbolo dele e teve grandes vitórias. O longa parte do assassinato e acompanha os desdobramentos do caso. Numa região onde o pai de família trabalhador, o juiz e o delegado eram igualmente racistas e protegidos por leis desumanas, o negro era tratado como uma coisa inferior.
É interessante perceber que, se o filme tem Mississipi no título, vem pela frente uma história revoltante envolvendo a luta por direitos civis. Assassinato no Mississipi (Murder in Mississipi, 1990), Mississipi em Chamas (Burning Mississipi, 1988) e Fantasmas do Passado (Ghosts of Mississipi, 1996) são alguns exemplos, e há personagens (e atores) em comum entre eles. O ativista Medgar Evers, por exemplo, aparece em Till e em Fantasmas, e Whoopi Goldberg está em ambos como atriz.
Tida como uma das principais esnobadas nas indicações ao Oscar 2023, Danielle Deadwyler (de Vingança e Castigo, 2021) faz um ótimo trabalho como Mamie e de fato merecia uma lembrança na temporada de premiações. Ela é o destaque em um ótimo elenco. O único ponto discutível é exatamente Hall, que vive o trágico Emmett. Talvez para acentuar a rotina feliz e tranquila que ele tinha em Chicago, com a mãe, sua atenção é um tanto afetada, parecendo viver em um conto de fadas. Nada que sobressaia. Mérito da diretora e corroteirista Chinonye Chukwu (de Clemência, 2019), que demonstra muita segurança e está apenas em seu segundo longa. Na medida do possível, ela dá leveza a uma história que é inerentemente pesada.
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