Irlanda é quase um personagem no insólito Os Banshees de Inisherin

Seguindo uma linha psicodélica de histórias de um humor peculiar que só ele poderia bolar, Martin McDonagh ataca novamente na direção e roteiro. Os Banshees de Inisherin (The Banshees of Inisherin, 2022) vem arrecadando prêmios e indicações e finalmente chega aos cinemas brasileiros essa semana, após o anúncio dos finalistas do Oscar. Foram nove indicações, sendo quatro apenas no elenco. McDonagh foi lembrado como diretor, produtor e roteirista. Tudo muito justo.

Com um Oscar na sacola (Melhor Curta por O Revólver de Seis Tiros, 2004) e indicações por outros dois trabalhos (Na Mira do Chefe, 2008, e Três Anúncios para Um Crime, 2017), McDonagh se voltou para a Irlanda, terra de seus pais e onde viveu boa parte de sua vida. Com uma trama que funcionaria muito bem também no teatro, ele juntou velhos conhecidos e a encenou em uma ilha afastada. Mais uma vez, ele tem Colin Farrell e Brendan Gleeson, de Na Mira do Chefe, como principais.

Com nomes e paisagens típicos da Irlanda, o filme nos apresenta a Pádraic Súilleabháin (Farrell), um sujeito simplório que vive numa casinha com a irmã (Kerry Condon, de Três Anúncios) e tem como passatempo ir para o bar local beber e conversar com o amigo Colm Doherty (Gleeson). Num dia qualquer, Colm decide que não quer mais ser amigo de Pádraic e essa situação toma uma proporção enorme. Dá a impressão de ser uma ilha de fofoqueiros, mas é exatamente como acontece numa cidadezinha do interior do Brasil.

Com um elenco de irlandeses (que ainda inclui Barry Keoghan, de Eternos, 2021), não fica difícil situar excepcionalmente bem o espectador. O sotaque faz uma diferença essencial, assim como a cadência das palavras. Fica mais fácil entender os personagens e a realidade em que vivem, numa rotina repetitiva e cansativa. Não a toa, os quatro atores principais estão indicados ao Oscar (Farrell como ator principal, os demais como coadjuvantes). A trilha sonora, de Carter Burwell (frequente colaborador do diretor), também é importante até na caracterização dos dois (ex)amigos, e foi lembrada no prêmio.

Para os atores se destacarem tanto em um filme, os diálogos precisam ajudar, e essa é uma constante no trabalho de McDonagh. Frances McDormand e Sam Rockwell ganharam vários prêmios trabalhando com ele (em Três Anúncios). Os personagens soam como pessoas reais, por mais insólita que seja a situação, e logo passamos a nos importar com eles. Certamente, você conhece um Pádraic, um Colm, uma Siobhán ou mesmo um Dominic. Não com esses nomes, claro.

Kerry Condon começou a trabalhar com o diretor aos 17 anos, no teatro

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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