Triângulo vive uma bonita história em Meu Policial

por Laís Simão

Meu Policial (My Policeman, 2022) conta a história de um triângulo amoroso vivido pelo policial Tom Burgess (Harry Styles, de Não Se Preocupe, Querida, 2022), a professora Marion Taylor (Emma Corrin, de The Crown) e o curador do Brighton Museum, Patrick Hazelwood (David Dawson, de The Last Kingdom). O título traz um importante aspecto do filme, já que o pronome possessivo “meu” indica o conflito que inicia a trama.

O enredo se desenvolve a partir de flashbacks. Enquanto os personagens estão no momento presente, uma pequena cena, um recorte do cotidiano, os leva a cinquenta anos atrás. Definitivamente, narrar a história por essa perspectiva foi uma decisão acertada, é um convite para ligar os pontos, olhar os personagens por outro ângulo, o que coincide com o próprio processo de autoconhecimento dos protagonistas.

Para o flashback fazer ainda mais sentido, o filme conta com excelentes escolhas de figurino, ambientação e trilha sonora, recriando a Inglaterra de 1959. A fotografia é outro ponto que merece destaque, retratando o mar por diferentes lados, dialogando com o conceito abstrato de fluidez das águas, com o interesse dos personagens pela arte e por um quadro em específico.

Após a morna atuação de Harry Styles em Não Se Preocupe, as expectativas estavam baixas quanto a ele protagonizar um filme. Nota-se que, nos últimos anos, ele participou também de Dunkirk (2017) e Eternos (Eternals, 2021), o que demonstra o interesse do cantor em continuar e aprimorar sua atuação. No entanto, aqui, ao lado de excelentes profissionais como Corrin e Dawson, seu trabalho não deixou a desejar.

Em relação a Emma Corrin, é interessante observar que em seus últimos trabalhos, após interpretar a Princesa Diana na quarta temporada da série The Crown, os papeis que lhe são designados geralmente possuem uma característica comum: a de esposa frustrada. Isso pode ser observado, além da própria Diana, enquanto atuava na conhecida história do casamento com o Príncipe Charles, em Meu Policial e também em O Amante de Lady Chatterley (Lady Chatterley’s Lover, 2022). Seria interessante ela mostrar outras vertentes de sua atuação, com tramas mais distintas, de modo a evitar uma marca desnecessária, sobretudo considerando sua jovialidade e seu flagrante talento.

Do outro lado do túnel do tempo, os protagonistas são interpretados por Linus Roache (o Dr. Wayne de Batman Begins, 2007), Gina McKee (sempre lembrada por Um Lugar Chamado Notting Hill, 1999) e Rupert Everett (o editor de Julia Roberts em O Casamento do Meu Melhor Amigo, 1997). Eles conseguem captar traços dos personagens jovens e reinterpretá-los com os acréscimos da maturidade.

A história do longa é inspirada no livro homônimo de 2012 de Bethan Roberts. A adaptação ficou a cargo de Ron Nyswaner, também responsável pelo ótimo Filadélfia (Philadelphia, 1993), pelo qual foi indicado ao Oscar. O filme foi dirigido por Michael Grandage, que é conhecido também por ser um produtor teatral, meio em que a encenação de Meu Policial se encaixaria perfeitamente. E o diretor deve gostar bastante de tramas de época – ele comandou O Mestre dos Gênios (Genius, 2016).

Disponível na Amazon Prime Video, Meu Policial é um filme bonito, sutil, que retrata um tema difícil. A história em si não traz grande originalidade, o que não tira a importância da obra. Alguns temas precisam ser revisitados, recontados e reelaborados, o que faz com que a relevância do filme seja fim em si mesma.

Harry Styles finalmente mostrou serviço, após atuações mais apagadas

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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