Em 2018, o diretor Ryan Coogler conseguiu um feito admirável: lançou Pantera Negra (Black Panther) nos cinemas, reunindo elogios da crítica e boa bilheteria. A garantia de uma continuação era automática e o personagem se encaixou muito bem no Universo Cinematográfico Marvel. Eles só teriam que enfrentar um grave problema: o astro do longa, Chadwick Boseman, faleceu em 2020, e os produtores logo decidiram que não iriam simplesmente trocar o intérprete (como já aconteceu no MCU).
Para Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever, 2022) ficou decidido então que o Rei T’Challa teria o mesmo destino de seu ator: mesmo tendo vencido inúmeros combates e defendido o seu povo, ele foi vitimado por uma doença. E esse é o pontapé inicial do filme, que não perde várias oportunidades para homenagear Boseman. E Coogler aproveita para novamente valorizar as mulheres de Wakanda, cada vez mais fortes e empoderadas.
A trama começa com uma intriga política: o mundo está de olho no Vibranium, metal fantástico encontrado apenas em Wakanda, agora governada pela Rainha Ramonda (Angela Bassett). Todos querem o metal para fins escusos, como a produção de armas, e Ramonda reafirma que nada sai de seu país. Por isso, há pesquisas em andamento para tentarem achar Vibranium em outro lugar. Uma dessas pesquisas acaba por encontrar um povo submarino liderado pelo ambíguo Namor (Tenoch Huerta Mejía, de Uma Noite de Crime: A Fronteira, 2021).
Buscando proteger os seus, Namor planeja um ataque ao mundo terrestre e quer uma aliança com Wakanda. É a oportunidade para Coogler colocar também em evidência os latinos, e o mexicano Huerta Mejía (abaixo) cumpre bem o seu papel, sempre andando na linha tênue entre amigo e inimigo e evitando maniqueísmos. Isso torna Namor um dos personagens mais interessantes do MCU, além de ter a mais nobre das motivações. Ao invés de lembrar o óbvio Aquaman, ele acaba remetendo ao John Harrison de Além da Escuridão: Star Trek (2013), um vilão de várias camadas.
Outra personagem apresentada aqui que deve ter vida longa no MCU é Riri Williams, que ficará conhecida como Coração de Ferro (ou Ironheart). A jovem Dominique Thorne (de Judas e o Messias Negro, 2021) traz uma boa dose de energia a Riri, que vê em Shuri (Letitia Wright) uma mentora – nos quadrinhos, essa figura seria Tony Stark, o que nos filmes já não é possível. Wright, Danai Gurira (Okoye) e Lupita Nyong’o (Nakia) são o trio principal e coração de Wakanda Para Sempre, perdendo em destaque apenas para o furacão Bassett, que rouba todas as cenas em que aparece.
O tempo excessivo de duração às vezes cansa e dá a sensação de que a história funcionaria melhor como série, na TV. Afinal, há muito o que se fazer: personagens a serem introduzidos, tramas a resolver e homenagens a apresentar. Mesmo com vários momentos genuinamente emocionantes (não era raro ver espectadores soluçando na sala), o roteiro dá uma forçada e nos proporciona algumas pulgas atrás da orelha. Certos problemas vão perdurar na memória e poluir um pouco a nossa lembrança pós sessão. Só que os quase 350 milhões de dólares de arrecadação desses primeiros dias de exibição garantem vida longa a Wakanda e ao Pantera Negra.
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