Stallone não é um bom Samaritano

Ele já foi o Juiz Dredd numa aventura tosca de 1995. É um Guardião da Galáxia da reserva na Marvel e o Tubarão-Rei para a DC (em O Esquadrão Suicida, 2021), além de fornecer a voz ao vilão Victor de Heróis da Galáxia – Ratchet e Clank (2016). Em 1993, viveu O Demolidor numa história que parecia ter saído das revistinhas. E foi isso que fez novamente Sylvester Stallone, agora para a Amazon Prime Video. Samaritano (Samaritan, 2022) tem cara de adaptação de HQ. E consegue ser o pior entre os citados acima.

A falta de recursos financeiros fica aparente por toda a sessão, mesmo o longa tendo custado 100 milhões de dólares. Boa parte desse orçamento deve ter sido gasta com Stallone, já que os efeitos e cenários são risíveis. E o astro é de fato o único ponto a chamar atenção nessa produção, que tem um vilão descabido e desperdiça o dinamarquês Pilou Asbæk (o Euron Greyjoy de Game of Thrones) no papel.

Em uma rápida contextualização, descobrimos que Granite City tinha um herói que a defendia de um grande malfeitor. Ambos foram dados como mortos numa explosão. Mas o jovem Sam (Javon Walton, de Euphoria) segue firme acreditando que seu ídolo está escondido por aí, sempre supondo que pessoas da vizinhança pudessem ser o Samaritano disfarçado. E a bola da vez é Joe (Stallone), um lixeiro recluso que parece esconder alguma coisa.

O roteiro de Bragi F. Schut (de Caça às Bruxas, 2011) até tenta ter alguma profundidade quando toca na questão da criminalidade, mas logo parte para os tiros, porrada e bombas e descarta qualquer conteúdo mais sério. Até aí, nenhum problema, se a ação fosse boa. No momento em que vemos um humano normal lutando contra um sujeito superpoderoso – e fazendo pressão -, a palhaçada já ganhou a guerra. A sequência de fatos que vamos acompanhando não faz o menor sentido e os dramas soam pré-fabricados.

Tendo dirigido o ótimo Operação Overlord (2018), era de se esperar mais de Julius Avery. A inventividade demonstrada em um filme deu lugar à preguiça e ao lugar-comum no outro. O carisma de Stallone some em diálogos vazios e previsíveis e o expectador logo entra num piloto automático, esquecendo tudo o que viu imediatamente ao final. Se aguentou chegar até lá. A recepção fria garante que Samaritano não tenha sequências, caso essa fosse uma possibilidade.

Stallone passa o filme todo com cara de quem chupou limão

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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