Garland faz um estudo da maldade masculina em Men

Independente do resultado ser bom ou ruim, fato é que os filmes de Alex Garland são instigantes. Tendo escrito roteiros elogiados para outros cineastas, como Danny Boyle, Garland assumiu a direção em 2014 e está em seu terceiro longa. Depois do ótimo Ex-Machina: Instinto Artificial e do duvidoso Aniquilação (Annihilation, 2018), ele chega à maior incógnita entre os três: Men (2022), que incompreensivelmente não ganhou título em português e em alguns veículos tem o subtítulo Faces do Medo. Aparentemente complexo, o filme é até bem simples, mas traz umas camadas que podem confundir os espectadores menos atentos.

Em entrevistas para promover o lançamento, Garland revelou a admiração pelo trabalho de Jessie Buckley, o que o levou a escolhê-la para a tarefa de levar a obra nas costas. Revelada para o mundo em As Loucuras de Rose (Wild Rose, 2018), a atriz parece ter uma predileção por mergulhos psicológicos. Indicada ao Oscar por A Filha Perdida (The Lost Daughter, 2021), que seguiu o muito comentado Estou Pensando em Acabar com Tudo (I’m Thinking of Ending Things, 2020), Buckley está sempre entrando na cabeça de suas personagens, entregando trabalhos elaborados que exigem muito dela.

E a atriz tem sido bem-sucedida em suas missões. Mesmo quando o resultado total não seja grande coisa (como em A Filha Perdida), Buckley cumpre seu papel. Em Men, ela é uma viúva que aluga uma casa no campo para espairecer e tentar curar as feridas de um casamento arruinado. Lá, ela terá contato com algumas figuras locais que lembram o novo clássico Sob o Domínio do Medo (Straw Dogs, 1971), que mostrou na década de 70 que os interioranos não são tão bonzinhos quanto aparentam.

Algo que fica bem claro com alguns minutos de exibição é que Men tem o objetivo de trabalhar a toxicidade masculina. Enquanto as personagens femininas são esclarecidas e compreensivas, as masculinas são escrotas e trazem perigo. Talvez, batendo-se um papo com Garland, que além de diretor assina o roteiro, seja possível entender o papel de cada sujeito na figura maior. Mas isso não importa. Apenas vendo o filme, muito fica no ar. É complicado interpretar o que cada um significa, mesmo que no fim quase tudo faça sentido.

Explorando bem os cenários bucólicos ingleses e propondo questões importantes, Men tem uma boa intenção, por assim dizer. A situação de abuso de certos homens, que podem ser vistos como sensíveis ou até frágeis e não passam de manipuladores canalhas, é algo que precisa ser discutido. E a atuação de Rory Kinnear (de 007: Sem Tempo Para Morrer, 2021) lidera muito bem o restrito elenco masculino. Só o roteiro de Garland que dá umas viajadas e não deixa nada muito claro. Os caminhos da mente são tortuosos, entendo, mas nem por isso tenho que gostar ou concordar com o que é mostrado.

Se aconselhar com um padre pode ser uma boa ideia – ou não

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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