Universos diferentes se encontram em Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

De tempos em tempos, temos fenômenos nos cinemas que, por algum motivo, se tornam os lançamentos mais comentados da temporada. Mesmo que não sejam nada excepcionais. O caso mais recente é o de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (Everything Everywhere All at Once, 2022), uma aventura absurda que tem uma roupagem elaborada para uma história bem simples. Bem amarrado e com ótimas atuações, é de fato um filme acima da média, e ainda guarda uma mensagem bonitinha. Só que esse confete todo não se justifica.

A imigrante chinesa Evelyn (Michelle Yeoh, de Podres de Ricos, 2018, que tem um frame aproveitado aqui) segura as pontas tocando a lavanderia da família ao lado do marido bonzinho (Ke Huy Quam, o garotinho de Indiana Jones e o Templo da Perdição, 1984) e da filha (Stephanie Hsu, de Maravilhosa Sra. Maisel), com quem tem grande dificuldade de relacionamento. As contas do negócio não estão fechando e a receita federal está atrás deles, através da auditora vivida por Jamie Lee Curtis (a eterna Laurie de Halloween). Para piorar, o pai de Evelyn (James Hong, de Red, 2022) está chegando da China para visitar.

Quando todas essas situações se juntam, Evelyn ainda descobre que há várias versões dela em universos diferentes e é possível pular de um para o outro. E é isso que uma grande vilã está fazendo, cabendo à pobre Evelyn derrotá-la e salvar o mundo. E nem temos um Dr. Estranho para servir de guia! É aí que o filme dá uma pirada, fazendo com que muitos espectadores tenham achado a proposta inovadora, revolucionária e outros exageros. Quando refletimos um pouco, algumas referências vêm à cabeça, sendo a primeira delas o novo clássico The Matrix (1999), numa espécie de mistura com o Multiverso da Loucura da Marvel.

Da forma como é contada, a história é de fato original, com um peso maior nos laços familiares do que na ação, mérito dos roteiristas e diretores Dan Kwan e Daniel Scheinert, que assinam juntos como Daniels. O trabalho mais famoso deles também era altamente metafórico, o drama Um Cadáver Para Sobreviver (Swiss Army Man, 2016). Só que vamos lembrando de várias outras obras, o que enfraquece essa um tanto. E é um bocado longo, passando de duas horas, o que acaba ficando cansativo.

Feitas as devidas ressalvas, é preciso apontar que os universos mostrados são realmente criativos, o que justifica o interesse de tanta gente. As várias versões exaltam o talento do elenco, obrigado a fazer adaptações constantes em seus personagens. O longa está em oitavo lugar entre as maiores bilheterias brasileiras do momento, outro grande sucesso da ascendente distribuidora A24. É bom ver um filme com figuras asiáticas que fogem de estereótipos e permitem uma certa profundidade. Deve ter sido isso também que Ke Huy Quam pensou, para tirá-lo da aposentadoria.

A ex-bond girl Michelle Yeoh tem uma nova oportunidade para lutar e faz bonito

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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