A Queda leva Belo Horizonte às telas em trama intrigante

Todos com um mínimo de proximidade com o Cinema sabem da dificuldade de se produzir por aqui. De se lançar, então, nem se fala. E ainda temos que aguentar a turminha do “filme brasileiro é ruim”. Por isso, é natural torcer pelo sucesso de um filme como A Queda (2022), que chega aos cinemas nessa quinta. É uma obra com raras qualidades, que se vê pouco lá fora: uma história interessante e que realmente capta a atenção do espectador, que fica tentando adivinhar o próximo passo. E não está preocupada em mastigar tudo para o público, permitindo que ele pense.

O primeiro ponto de interesse para quem é de Minas é saber que o longa foi parcialmente filmado em Belo Horizonte. Os cenários externos, principalmente noturnos, são facilmente identificáveis, com ruas e viadutos sendo mostrados pela fotografia, que situa bem a ação. O carro está virando e você pensa: “Aí é a rua Sapucaí!” Pouco depois, ele entra no “viaduto do Extra”, e assim por diante. Não por acaso, boa parte dos envolvidos na produção é mineira, como o diretor e roteirista, Diego Rocha (de Writers Retreat, 2015), nascido em Divinópolis. A Zona da Mata também marca presença, muitas das casas que aparecem são de lá.

A trama nos apresenta a Beto (Daniel Rocha, da série Irmãos Freitas), um fotógrafo forense que se divide entre o trabalho e cuidar do avô rebelde, Geraldo (Gracindo Júnior, de Magnífica 70). Certinho, Beto tem alguns embates com Gera, que quer curtir o pouco tempo que julga ter, mesmo que isso abale a sua saúde. Um aparente suicídio, a queda do título, chama a atenção do fotógrafo, que começa a investigar o fato por conta própria e logo percebe elementos estranhos. A partir daí, as coisas se complicam, envolvendo um testamento e uma amante (Juliane Guimarães).

 

À medida que A Queda anda, percebemos que não há nenhum personagem tomando atitudes burras, o que seria muito comum. As atuações são muito naturais, a começar por Rocha e Gracindo, que convencem como neto e avô, demonstrando um forte laço afetivo. Não se sabe mais quem cuida de quem, já que os papéis parecem ter se invertido. Diálogos ágeis expõem apenas o necessário, confiando na capacidade do espectador de acompanhar os fatos. E é isso o que o filme faz: ele apresenta as situações sem ser propagandístico ou tendencioso, cada um que conclua o que quiser.

Na surdina, A Queda chega aos cinemas brasileiros essa semana e merece uma conferida. Como bem disse o diretor na pré-estreia na capital mineira, a bilheteria das primeiras semanas é o que garante a longevidade do filme nos cinemas. E este, por seus vários méritos, merece. Se você, nesse momento, está pensando “como esse filme é tão bom e eu nunca tinha ouvido falar nele?”, volte ao início desse texto.

A fotografia valoriza os espaços internos e externos

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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