Neste vasto Universo Cinematográfico Marvel, às vezes acontece de um filme querer fugir dos gêneros mais habituais, que são ação e aventura (com elementos de comédia e ficção-científica). Por isso, já tivemos um de guerra (Capitão América, 2011), um de espionagem (Capitão América: O Soldado Invernal, 2014) e um de roubo (Homem-Formiga, 2015), por exemplo. Graças a Sam Raimi, agora temos um de terror: Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (Doctor Strange in the Multiverse of Madness, 2022). Ou algo próximo disso.
Sempre lembrado como o criador da franquia Evil Dead (chamada no Brasil de Uma Noite Alucinante), Raimi tem vasta experiência em longas assustadores. E, como um bônus para a Marvel, tem também a bem-sucedida trilogia do Homem-Aranha (com Tobey Maguire) em seu currículo. Isso, além de Darkman: Vingança Sem Rosto (1990), uma história original de vingança que lembra muito uma revista em quadrinhos. Bagagem é o que não falta ao diretor.
Com a saída de Scott Derrickson, que comandou o primeiro filme de Stephen Strange, o roteiro voltou à estaca zero. A Marvel não estava gostando dos rumos que Derrickson estava tomando, aparentemente mais aterrorizantes, e começou a meter o dedo. Ele, então, alegou as famigeradas diferenças criativas e deixou o projeto, abrindo caminho para Raimi e para um novo roteirista. Tendo escrito e produzido a elogiada série de Loki, Michael Waldron foi o escolhido. Atendendo as exigências do estúdio, ele manteve o foco da história em duas personagens: America Chavez (a futura Miss America) e Wanda Maximoff, a Feiticeira Escarlate.
Já conhecida do público desde o segundo Vingadores, a Era de Ultron (2015), Wanda (vivida por Elizabeth Olsen – acima) vem sendo trabalhada desde o início, os produtores pareciam saber exatamente onde queriam chegar com ela. Nos quadrinhos, ela surgiu como uma vilã relutante, que logo muda de lado e se junta aos Vingadores. Na série WandaVision, ela deu uma amostra de seu enorme poder dominando a mente de uma cidade inteira para satisfazer suas fantasias de ter um lar e uma família com o androide Visão. É logo após esse episódio que a encontramos.
Outra protagonista aqui é America Chavez (Xochitl Gomez, de O Clube das Babás), conhecida dos leitores de quadrinhos como Miss America. No filme, ela surge como uma adolescente que tem o poder de viajar entre universos e, por isso, está sendo caçada por alguém que deseja roubar essa habilidade. Mais uma vez desempenhando o papel de mentor de jovens (como em Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, 2021), cabe ao Doutor Estranho ajudá-la. E essa é a desculpa para a Marvel passear no Multiverso e desenvolver esse conceito, já apresentado em obras anteriores. Dá inclusive para notar certa influência da série What If…? Mais especificamente na aparição de duas figuras apresentadas lá.
E, finalmente, chegamos ao personagem que dá nome ao longa. O Doutor Stephen Strange novamente mostra que não é tão esperto quanto todos pensam, assim como em Sem Volta Para Casa. Afinal, estamos acompanhando o começo da carreira dele como mestre das artes místicas. E ninguém sabe nada a respeito do multiverso, o que torna tudo incerto. Esse é um dos problemas do roteiro: como as regras não são conhecidas, elas são apresentadas conforme as coisas vão acontecendo, o que soa conveniente. O que o roteirista achou interessante para a história passa a ser uma regra. E a expressão Multiverso da Loucura é impactante para um título, mas faltou um pouco dessa loucura nas realidades apresentadas. As participações, no entanto, são muito bacanas, assim como os efeitos especiais, que certamente vão garantir alguns prêmios.
O principal problema que assola Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é extrínseco ao filme: a expectativa do público. Com o patamar alcançado por Sem Volta Para Casa, os fãs estavam esperando maravilhas. E a Marvel mostra muito nos trailers, nos fazendo achar que há muito mais a ser revelado, quando não há tanto assim. A maior parte das críticas negativas que se vê dizem respeito a isso. Benedict Cumberbatch é sempre muito seguro, e ganha o bom reforço de Rachel McAdams, que tem muito mais a fazer que anteriormente. O longa está entre os melhores do MCU e ajuda a garantir Strange como um de seus personagens mais importantes.
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