Com o sucesso de Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express, 2017), era de se esperar que Hercule Poirot voltaria aos cinemas. A mais famosa criação de Agatha Christie agora é protagonista de Morte no Nilo (Death on the Nile, 2022), outro livro famoso da escritora, já adaptado anteriormente (em 1978). Mais uma vez, temos Kenneth Branagh na direção e no papel do detetive. E não poderia faltar um elenco cheio de estrelas – e de atores “cancelados”.
Assim como causou certo constrangimento a presença de Johnny Depp em Expresso Oriente, já que o ator havia sido denunciado por violência contra a então esposa, dessa vez temos Armie Hammer, Letitia Wright e Gal Gadot, cada um com sua dose de complicações. Somando-se nesse caldo os atrasos na exibição causados pela pandemia, o longa custou a chegar ao público. E não fez feio, superando bem seu custo. A bilheteria arrecadada já garantiu a produção de uma terceira aventura. O livro escolhido é dos menos conhecidos, segundo o presidente dos estúdios 20th Century.
Morte no Nilo nos mostra Poirot em férias no Egito, em meio às pirâmides. Ele encontra o amigo Bouc (novamente vivido por Tom Bateman), que o apresenta aos recém-casados Simon (Hammer) e Linnet (Gadot). Por ser perseguido pela ex de Simon, Jackie (Emma Mackey, de Sex Education), o casal decide seguir com a lua de mel em um luxuoso navio pelas águas no Nilo. Poirot segue com os demais convidados e, como podemos esperar, um assassinato será cometido. O detetive mais famoso do mundo terá, então, que desvendar o crime.
Além dos já citados, o elenco inclui Annette Bening, Jennifer Saunders, Dawn French, Sophie Okonedo, Rose Leslie, Russell Brand e Ali Fazal, nomes bem conhecidos que dão vida ao roteiro de Michael Green (de Expresso Oriente). Fama não necessariamente se traduz em competência, temos gente boa atuando com algumas figuras pouco expressivas. Um exemplo é Gadot, vendida na trama como maravilhosa e cobiçada. A atriz não consegue empolgar e nesse ponto o filme perde um tanto de sua força. Era necessária uma presença mais magnética, que nos levasse a crer que tudo aquilo aconteceu por causa dela. Uma Charlize Theron, quem sabe…
A recriação do Egito na Inglaterra não ficou das mais críveis, deixando a falsidade bem clara em certos momentos. E, falando em falsidade, o ferimento no rosto e a relação com o bigode são terríveis. Poirot está mais frio do que nunca, chegando a ser verbalmente atacado por outros personagens, o que mostra um detetive um pouco raso. O roteiro até se propõe a dar uma explicação para isso, mas também não convence. Ainda que Branagh tenha o mesmo esmero do longa anterior, Morte no Nilo não causa a mesma reação. É um bom filme morno.
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