Jack Reacher ganha um novo rosto na TV

Com 23 livros lançados contando suas aventuras errantes, Jack Reacher é certamente um personagem que deveria ganhar uma série de televisão, já que não falta material a explorar. Depois de dois filmes para o Cinema, chegaram à conclusão acima e a Amazon resolveu produzir Reacher, cuja primeira temporada está disponível no Prime Video.

O inglês James Grant, que escreve sob o pseudônimo Lee Child, começou a lançar seus livros em 1997, quando havia sido despedido de seu emprego na área comercial de um canal de televisão. Ganhou prêmios logo de cara e seguiu na carreira, escrevendo praticamente um livro por ano. O protagonista de quase todas suas histórias é um ex-militar gigantesco que domina técnicas de luta, armas, táticas de guerra e qualquer outra habilidade ligada a sobrevivência.

Exatamente devido à forma como Reacher é descrito, não fazia muito sentido ter Tom Cruise no papel, como aconteceu em Jack Reacher – O Último Tiro (2012) e Jack Reacher: Sem Retorno (Never Go Back, 2016). Apesar do ator ter feito um bom trabalho, elogiado até por Child, Alan Ritchson assumiu a tarefa de viver o sujeito. Visto na série dos Novos Titãs como Hank “Rapina” Hall e nos filmes das Tartarugas Ninjas com a máscara de Rafael, ele se aproxima bem do físico criado pelo escritor.

Ritchson assimilou bem o jeito de Reacher, caladão e literal. Quando fala, costuma deixar os demais com raiva pela forma pedante e denotativa como vê o mundo, tendo grave dificuldade para entender figuras de linguagem mais elaboradas. Extremamente observador e ligado aos detalhes, ele parece sempre à frente dos colegas em investigações e guarda um passado de muita violência e tristeza. E, por algum motivo, até a mãe dele o chama de Reacher.

Na trama de Killing Floor, lançado aqui como Dinheiro Sujo, temos Reacher chegando de ônibus a uma cidadezinha da Geórgia, Margrave, para procurar por um músico indicado há muito pelo irmão. Lá, ele é acusado pelo assassinato de um desconhecido encontrado na beira da estrada com marcas de tiros e de agressão física. Enquanto prova não ter relação com o crime, ele descobre a identidade do falecido: seu irmão, Joe. Isso faz com que ele se motive a ficar na cidade e a esclarecer o acontecido.

Margrave é dominada por algumas famílias tradicionais e os cidadãos de bem de lá não ficam muito felizes em receber o forasteiro descomunal. Ainda mais quando assassinatos acompanham o tipo. Unindo-se a dois policiais aparentemente honestos, Reacher pretende resolver o caso até o final do oitavo e último episódio. É quase como a série setentista do Hulk, aquela com Bill Bixby e Lou Ferrigno, em que um errante extremamente forte pulava de cidade em cidade esclarecendo crimes.

Na linha de C.S.I. e outras séries investigativas, fica aparente que o escritor pensa na conclusão, que sempre deve ser chocante e criativa, para chegar ao desenvolvimento e ao início. Indo mais longe e guardadas as devidas proporções, é praticamente uma história de Sherlock Holmes. As diferenças são muitas, mas há semelhanças o suficiente para permitirem essa associação. E, mesmo caladão, Ritchson tem carisma, reforçado por seu bom elenco de apoio. O resultado acima da média dessa primeira temporada garantiu a renovação para mais uma. Não se sabe se as adaptações seguirão a ordem dos livros, mas esperamos por algo instigante.

De Tom Cruise para Alan Ritchson dá uma diferença de alguns metros

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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