Em 1969, mesmo ano do famoso Festival de Woodstock, houve outra grande festa da música reunindo alguns dos maiores nomes da época. O Harlem Cultural Festival aconteceu várias vezes a partir de 1964, mas foi em 69 que ele tomou um vulto maior, sendo realizado todos os domingos entre 29 de junho e 24 de agosto. Com tudo sendo filmado, era de se esperar que fosse feito um documentário à altura do festival, mas os rolos de filme acabaram abandonados em um sótão. Até 2021.
O cineasta Hal Tulchin, responsável pelas filmagens, lançou na televisão dois especiais de uma hora no mesmo ano do evento. A maior parte do material permaneceu inédita até que, no ano passado, o músico Questlove (nome artístico de Ahmir Thompson) se comprometeu com a empreitada e fez sua estreia na direção. Summer of Soul (…ou, Quando A Revolução Não Pode Ser Televisionada) (Summer of Soul (…Or, When the Revolution Could Not Be Televised, 2021) é o resultado de mais de 40 horas de registros, esquecidos por 50 anos.
Em cartaz nos cinemas e no Hulu, além de já estar na programação do canal a cabo Telecine, o longa traz um misto de shows antológicos, depoimentos marcantes e um panorama da época. Teria o festival sido deixado de lado por ter sido ofuscado por Woodstock? Ou por ter sido feito por e para minorias? Negros e hispânicos eram o público-alvo, que lotou o Parque Mount Morris, e os shows eram predominantemente de artistas negros. A falta de interesse de investidores impediu Tulchin de conseguir fundos para a realização até que, após a morte dele, o produtor Robert Fyvolent comprou os direitos.
Summer of Soul traz apresentações de gente como Stevie Wonder, Nina Simone, Sly and The Family Stone, The 5th Dimension, Mahalia Jackson, B.B. King, entre vários outros. Com artistas como esses tocando, é de se surpreender que o documentário tenha demorado tanto tempo para sair. O lançamento, em janeiro de 2021, foi realizado no Festival de Cinema de Sundance, onde o longa ganhou dois prêmios. Em sites de críticas, os elogios são efusivos, chegando a classificar o longa como o melhor documentário de música já feito.
Exageros ou não, é fato que Questlove fez uma grande estreia na direção e é um prazer assistir a tantos shows excelentes, oferecidos ao público gratuitamente em um parque aberto. Eram outros tempos, em que famílias inteiras compareciam, e muitas crianças certamente foram impactadas. Algumas, já adultas, dão depoimento no filme e ajudam a nos situar no contexto da época. Mesmo quem não viveu aquele momento terá saudades.
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