Quem tem um presidente como o do Brasil assiste a um filme como Não Olhe Para Cima (Don’t Look Up, 2021) e se preocupa mais em achar paralelos com a nossa situação do que em prestar atenção à obra. Não faltam estereótipos na trama, do assessor puxa-saco que além de tudo é filho ao empresário ganancioso que manda no governo, e é exatamente isso o que nos preocupa: vivemos numa realidade ridícula, estereotipada, e nada daquilo é impossível de acontecer. Frente a uma catástrofe em potencial, qual é a resposta da presidente? “Não olhe”.
O diretor e roteirista Adam McKay vem buscando desenvolver temas espinhosos, como fez em A Grande Aposta (The Big Short, 2015) e Vice (2018), de uma forma palatável para quem não tem grande repertório nas áreas abordadas. Dessa vez, ele opta por fazer uma sátira, provando seu ponto com uma alegoria de um meteoro que vem em direção à Terra e vai destruir tudo em seis meses. A estudante de doutorado que faz a descoberta leva o caso ao professor, que faz os cálculos necessários e prova que a ameaça é real.
Aí começa a via sacra dos cientistas, que precisam convencer o mundo do que está para acontecer. A presidente dos Estados Unidos, de quem se esperaria uma providência rápida, prefere esperar para não perder poder político. Questões financeiras interferem também, deixando claro que o dinheiro manda nas decisões tomadas em Washington. “De que adianta dinheiro se todos estaremos mortos?”, pergunta um personagem. Parece exagerada, mas a questão é totalmente cabível. É como dizer que é preferível ter liberdade do que ter vida, o que sabemos que já aconteceu. Ou tentar embutir uma propina no preço de vacinas em meio a uma pandemia.
McKay parece ter um trânsito gigantesco em Hollywood, basta olhar para seus elencos. Dessa vez, ele conta com ninguém menos que os oscarizados Leonardo DiCaprio (de O Regresso, 2015) e Jennifer Lawrence (de Operação Red Sparrow, 2018) nos papéis principais. É interessante perceber que, mesmo sendo a aluna a descobridora do cometa, a sociedade de uma forma geral dá mais holofotes para o professor, mostrando o machismo que aparece quando menos se espera. Uma mulher chamando a atenção enfaticamente para uma questão gravíssima é logo tachada de doida, desequilibrada, enquanto o homem é incensado por ser bonito. O cientista de Rob Morgan (de Estados Unidos vs. Billie Holiday, 2021) evidencia também o racismo estrutural.
Para dar peso à presidência da república estadunidense, ninguém melhor que Meryl Streep, que busca alguns projetos com relevância social, como foi o caso de A Lavanderia (The Laundromat, 2019), em meio a outros mais leves. Linda e segura no papel, a atriz exemplifica bem como figuras como Trump e Jair (entre outros) se comportam, colocando interesses próprios acima do país que deveriam representar e com o rabo preso aos financiadores da campanha. O filho da presidente, vivido por Jonah Hill (de Cães de Guerra, 2016), ajuda a reforçar o nonsense e também o paralelo com a realidade brasileira, já que lembra muito um fulano do chamado “gabinete do ódio”.
Outros nomes famosos no elenco ajudam a compor tipos facilmente encontráveis nesse quadro, como os apresentadores que tentam tornar tudo leve (Cate Blanchett e Tyler Perry), o empresário que tem a presidente no bolso (Mark Rylance), o jovem alienado (Timothée Chalamet), a influencer que vive de fofocas (Ariana Grande) ou o militar tido como herói de não passa de um escroto (Ron Perlman). E não nos esqueçamos do general que cobra por algo que é gratuito (Paul Guilfoyle). Caricaturas não faltam, assim como o principal: o cidadão comum, que acredita no que quer, mesmo que evidências deixem algo claro. O fato não importa, posso acreditar no que eu quiser. E as palavras da presidente têm grande influência nisso.
No desenrolar da sessão, o filme se preocupa com alguns dramas pessoais, perdendo um pouco o foco das críticas que vinha fazendo. McKay mira em vários alvos, com muito exagero envolvido, e vai deixando a peteca cair em alguns. Há uma mensagem clara sendo passada, mesmo que não se concorde com a forma como ela é passada. A montagem deixa pouco espaço para sutileza, esfregando tudo na cara do espectador. Análises mais profundas ou interpretações não são necessárias, está tudo ali. No fim, Não Olhe Para Cima resume-se a uma comédia sem graça com ótimas interpretações e um recado importante: não basta ignorar a crise para que ela deixe de existir. Busque se informar, acredite em quem traz fatos e fuja de achismos ou opiniões vazias bancadas por interesses obscuros.
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O filme é interessante em vários pontos, sendo um deles, como que as pessoas estão alienadas ao poder da imprensa e da tecnologia. Particularmente achei que o diretor pecou no final com (censurado por motivo de spoiler).
Boa observação. Concordo com todos os pontos. Você só se esqueceu do fato que a sociedade gosta deste teatro, dar atenção a casos de fofoca de blogueiros ao invés de notícias que realmente importam ou a doença como a mídia tem poder de manipulação da informação. É meu amigo difícil sair desta situação.
Na verdade o filme é ruim...trata de um tema surreal...mas poderia em tese se encaixar plenamente na realidade americana, pois lá tem de tudo um pouco! Podemos comparar a ficção do filme com outros governos que roubaram o país, quase o destruíram, como ocorre quando o cometa atinge a terra! Balela pura...afinal o que interessa é a bilheteria...arrecadação...e a fortuna que os atores ganharam ao estrelar esse filme! De comédia não tem nada! Como disse Caetano Veloso: Tomem a vacina, a vacina salva! Disse isso depois de pegar COVID mesmo depois de tomar a terceira dose! Até em comentário de filme Bolsonaro é lembrado!
A presidente é capacho de uma grande empresa bilionária, tipo pfizer + facebook, isto nao tem nada a ver com jair bolsonaro, que brigou muito contra os interesses dessas empresas. A presidente é a cara da esquerda, capacho das megas empresas e com dicurso alinhado à mídia.