Homem-Aranha fecha a trilogia do MCU com muita diversão

A identidade secreta do Homem-Aranha já não é tão secreta assim. Todos sabem que se trata de Peter Parker, um colegial que vive no Queens com a tia. E isso torna a vida do rapaz um inferno, complicando situações que seriam num primeiro momento bem simples. É aí que Peter tem uma ideia brilhante: pedir ao Doutor Estranho que apague essa notícia da cabeça das pessoas. Esse é o ponto de partida de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa (Spider-Man: No Way Home, 2021), terceira aventura solo do amigo da vizinhança no Universo Cinematográfico Marvel.

Como os trailers e cartazes adiantaram há meses, teremos uma espécie de abertura de um portal para o multiverso, conceito que vem sendo introduzido no MCU, como na série do Loki. O Dr. Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) fará algum feitiço e a consequência será a chegada de vilões apresentados em filmes anteriores, como o Dr. Octopus (Alfred Molina) e o Duende Verde (Willem Dafoe) – com suas respectivas músicas-tema. Dizer mais do que isso sobre a trama seria entregar demais. E surpresa é o que não falta no longa, com algumas participações bem especiais que farão marmanjos chorar copiosamente. Quase temos a formação de um Sexteto Sinistro.

Assim como nos filmes anteriores, a mistura entre humor e drama é bem saudável, e não falta ação. A decisão da Marvel de manter o diretor, Jon Watts, para toda a trilogia foi muito acertada, além de que os dois roteiristas, Chris McKenna e Erik Sommers, também estavam envolvidos nos anteriores. Eles demonstram conhecer bem os personagens e cuidar com carinho do desenvolvimento deles. Conseguimos ver um avanço em quase todos eles: Stephen Strange é o único que parece preso em sua arrogância, mesmo tendo melhorado do filme solo para cá, e mostra que não é tudo aquilo que pensam dele.

O elenco de Sem Volta Para Casa também está bem azeitado. Tom Holland passa muita segurança no papel-título, mesmo nos momentos em que Peter mete os pés pelas mãos. Como descreve Strange: “por ter ajudado a salvar o mundo, esquecemos que, no fundo, Peter é uma criança”. E talvez esteja aí o maior fator de identificação do público com o personagem: ele não é perfeito como os semideuses da DC, tampouco o modelo de comportamento que representava Steve Rogers. Ele é um bom menino que tenta fazer o bem e frequentemente erra. E tem ao seu lado MJ (Zendaya), uma mulher mais geniosa que ele e que disputa o protagonismo do filme de igual para igual, deixando longe a figura da dama em perigo.

Quanto aos demais atores, a nostalgia fala alto quando alguns deles aparecem em cena. Gritos foram ouvidos no cinema como se fosse uma final de Copa do Mundo. Uns mais alterados por efeitos visuais, rejuvenescidos, outros menos. O J. Jonah Jameson de J.K. Simmons continua odioso, pregando a verdade que ele se força a acreditar no melhor estilo da escola Steve Bannon de fake news. Na imprensa brasileira não é difícil achar tipos como ele. Há algumas situações que parecem forçadas, mas quando pensamos bem, concluímos que não seria difícil que acontecessem de fato.

A forma como o roteiro reúne esses vários personagens e dá importância a cada um deles é bem interessante. O filme olha para o passado do Aranha no Cinema já indicando o caminho do futuro, evitando ficar apenas no saudosismo. Há duas cenas nos créditos: enquanto a do meio soa totalmente sem sentido, feita apenas para agradar a base de fãs, a segunda mais parece um trailer de uma próxima produção do MCU. De uma forma geral, Sem Volta Para Casa entrega o que todas as produções baseadas em heróis dos quadrinhos deveriam: diversão. E o Homem-Aranha segue sendo um dos que têm maior apelo junto ao público, que deve seguir lotando salas por algumas semanas.

O Dr. Octopus rejuvenescido de Molina foi um dos que mais arrancaram gritos no cinema

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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  • Como sempre muito bem escrito colocando os principais pontos a serem observados na trama sem deixar um spoiler sequer.

    Parabéns pelo trabalho, Seabra.

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