Dexter Morgan está de volta. O psicopata amigo da vizinhança, agora devidamente estabelecido no interior do estado de Nova York, tem que se acostumar com um frio que nunca passou em Miami. E atende pelo nome Jim Lindsay, duas prováveis homenagens: ao escritor que criou o personagem, Jeff Lindsay, e ao criador da série que durou oito temporadas, James Manos, Jr. Com o produtor Clyde Phillips, responsável pelas quatro primeiras temporadas, novamente encarregado, Dexter: New Blood promete corrigir erros do passado. Ou, ao menos, deixar na cabeça dos fãs uma melhor impressão.
As quatro primeiras temporadas de Dexter, exatamente aquelas desenvolvidas por Phillips, são excelentes e respondem por todas as cenas e falas memoráveis da série. Da quinta à oitava, veiculada em 2013, foi só barranco abaixo, com um final melancólico e altamente criticado por todos que respiravam na época. O próprio astro da atração, Michael C. Hall, deu entrevistas deixando claro, com palavras brandas, que não havia ficado satisfeito com o destino de seu tão amado Dexter. E, por isso mesmo, ele topou voltar àquele universo. E porque Phillips estava envolvido, uma garantia de que o cânone seria recuperado.
No final da oitava temporada da série, com a irmã morta, o perito em criminalística que dava seus pulos como serial killer de malfeitores forja sua própria morte. Agora, já no interior de Nova York e atendendo em uma lojinha de pesca e caça, Jim Lindsay é o funcionário ideal e o vizinho perfeito, daquele tipo que é convidado para todos os eventos da cidadezinha. Como sempre teve uma ligação com a polícia, ele namora a delegada, que volta e meia tem que resolver mistérios na igreja ou separar rebanhos que se misturaram e evitar brigas.
Com tantas perdas, já que quase todos à sua volta morreram, era de se esperar que Dexter abandonasse o “código de Harry”, aquele que o pai adotivo o ensinou para que só matasse gente má. Misteriosamente, Dexter consegue passar esses anos todos sem matar ninguém. Talvez porque sua mente tenha substituído o passageiro sombrio, espécie de personalidade que o influenciava a matar, por sua irmã. Debra (vivida por Jennifer Carpenter) agora é quem conversa com Dexter. Ao invés de dar conselhos, como Harry (James Remar) fazia, ela o lembra constantemente da tragédia que ele causou e o mantém na linha.
Isso, até que um riquinho mimado e inconsequente (Steve M. Robertson) o perturba e faz com que Dexter vislumbre matar novamente. O gatilho para que tudo voltasse a ser como antes é bem fraco, mas esse foi apenas o primeiro episódio. O clima promete esquentar, mesmo em meio àquela neve, ainda mais com a chegada de personagens já conhecidos por nós. O estranho que se aproxima dele já desde o início é facilmente identificável e deve dar combustível para as novas tramas.
A nova apresentação dá a entender que New Blood é outra série, e não mais uma temporada de Dexter. A fotografia é bem-feita e nos ajuda a conhecer a atual morada do psicopata. Uma trilha que já começa com The Passenger (grande sacada!), de Iggy Pop, também agrada. Michael C. Hall conhece Dexter muito bem e o retorno ao personagem se deu com aparente facilidade. A narração irônica nos leva a crer que ele acredita estar em evolução, mas não sabemos se rumo a ser uma pessoa melhor ou um assassino mais habilidoso.
Os fãs devem ficar bem satisfeitos com as surpresas que Phillips guarda e os acenos nostálgicos que aparecem aqui e ali. Ele já disse, em entrevistas, que pensou primeiro no final dessa temporada para depois criar o começo. Desde o início, já tinha tudo pensado. Outro que volta é o diretor Marcos Siega, veterano da TV que comanda seis dos dez episódios. Tem tudo para acabar bem e redimir Dexter. Esta temporada é A temporada. Tem que ser.
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