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Hugh Jackman se perde nos Caminhos da Memória

Com tantas sequências e adaptações chegando aos cinemas, uma trama original deve ser sempre saudada como um sopro de vento fresco. Mas uma história requentada que traz outras várias, melhores, à mente pode ser ainda pior. Caminhos da Memória (Reminiscence, 2021) busca misturar alguns temas e, apesar de não pecar em todos, não consegue fugir do lugar-comum já frequentado por grandes obras quando ainda havia ineditismo. E não ajuda em nada ter diálogos terríveis que poderiam ter sido escritos por George Lucas.

Num futuro próximo, mudanças climáticas inundaram Miami e o calor faz as pessoas trocarem o dia pela noite. Nesse cenário caótico, temos um sujeito que mantém a barba por fazer e a gravata propositalmente frouxa e vive de conduzir pessoas por suas próprias memórias, seja por gostarem delas ou por precisarem esclarecer algum ocorrido. Nick Bannister é vivido por Hugh Jackman, que aposentou seu Wolverine e, por seu visual, parece querer ser o próximo John Constantine. O sobrenatural dá lugar à ficção científica, mas a base mesmo da trama reside nos clássicos do policial noir.

Cocriadora da série Westworld, Lisa Joy faz aqui sua estreia na direção e roteiro de um longa-metragem. Ela parece ter feito o dever de casa, pesquisando diversas influências para sua história. O problema é que são todas muito presentes, e muito superioras. O clima do filme parece ser uma mistura de Relíquia Macabra (ou O Falcão Maltês, de 1941) com A Origem (Inception, 2010), com Jackman requentando o tipo imortalizado por Humphrey Bogart: o sujeito durão, calejado, que no fundo não passa de um romântico. E a linda Rebecca Ferguson (de Doutor Sono, 2019) é a mulher fatal da vez, guardando segredos que infelizmente não serão tão surpreendentes assim.

O casal principal é competente e carismático. A química entre eles até funciona, apesar do relacionamento soar um tanto pré-formatado. Os desdobramentos da história é que perdem totalmente o interesse do espectador, que terá que perseverar contra o sono. Buscas forçadas, lutas intermináveis e uma investigação que não passa de uma consulta a memórias deixam claro que estamos perdendo tempo. Há cenas bonitas, que dão a impressão de que Joy tinha boas ideias pontuais, não sabendo exatamente como costurá-las. Um longa recente que vem à mente é Brooklyn: Sem Pai Nem Mãe (Motherless Brooklyn, 2019), que tem muito mais sucesso em construir essa atmosfera de mistério e envolver o público, além da história ser mais interessante.

Originalmente marcado para lançamento em abril de 2021, o filme foi pra geladeira devido à pandemia e acabou aproveitando a reabertura dos cinemas em agosto, mas estreou simultaneamente nos Estados Unidos no streaming HBO Max, com mais de 840 mil pessoas tendo assistido em casa nos primeiros três dias. Nos cinemas, em compensação, Caminhos da Memória vem amargando um resultado bem abaixo do esperado, faltando ainda uns 100 milhões de dólares de arrecadação para não ser um prejuízo para a Warner.

Lisa Joy comanda seu elenco, com Thandiwe Newton ao fundo

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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