Passa dos 150 milhões de dólares a arrecadação nas bilheterias de Jungle Cruise (2021), longa lançado também no streaming Disney+. Assim como a franquia Piratas do Caribe, trata-se de uma criação baseada num brinquedo do parque da Disney, e as associações são imediatas. Desta vez, temos dois astros dividindo a responsabilidade: Dwayne Johnson (visto recentemente em Hobbs & Shaw, 2019) e Emily Blunt (de Um Lugar Silencioso 2, 2020). Apesar de serem ambos muito carismáticos e competentes, a química entre eles não é das melhores e, assim como os outros nomes do elenco principal, parecem deslocados ou constrangidos.
O filme alterna momentos divertidos, misturando ação e comédia, com trechos mais arrastados, que chegam a dar sono. Os personagens principais são todos estrangeiros morando na Amazônia, e constantemente precisam ensinar os brasileiros a cuidarem da floresta. Se comunicam com tanta facilidade em inglês que a língua parece ser a oficial da região. O excelente Paul Giamatti (da série Billions) vive um empresário italiano que nunca definem se é um vilão ou um alívio cômico, acaba ficando no meio do caminho.
Além do suposto vilão italiano, há também o conquistador espanhol (vivido por Edgar Ramírez, de The Undoing) e o príncipe germânico (Jesse Plemons, de Estou Pensando em Acabar com Tudo, 2020). Ou seja: Frank, presumivelmente americano, e Lily, claramente inglesa, são os heróis, concentrando os valores bons em quem fala inglês. O resto do mundo não deve ser nada confiável. O único ator que parece confortável e cujo personagem realmente tem algo a dizer é Jack Whitehall (de Belas Maldições), como o irmão de Lily, que cumpre bem sua função mesmo que em meio ao um teatrinho mal ajambrado.
Como se vê pelas etnias dos heróis e vilões, ter um espanhol na direção não ajudou em muita coisa. Jaume Collet-Serra é escolado em filmes de ação, como O Passageiro (The Commuter, 2018), Noite Sem Fim (Run All Night, 2015), Sem Escalas (Non-Stop, 2014) e Desconhecido (Unknown, 2011) – detalhe: os quatro estrelados por Liam Neeson. Em Jungle Cruise, ele parece apenas cumprir a visão dos executivos da Disney, usando o roteiro de Michael Green (de Logan, 2017, e Lanterna Verde, 2011) para atrair mais público para o parque de diversões e vender ingressos.
A bobagem da trama envolve um ou outro fato histórico, como uma associação de cientistas ingleses que não aceita mulheres e as lendas sobre Lope de Aguirre, o explorador que desceu o rio Amazonas em busca do El Dorado, uma cidade que seria feita de ouro. Nem por isso o filme se torna mais interessante, seus 127 minutos custam a passar. Blunt e Johnson até conseguem criar cenas engraçadas, nada perto do que a longa duração demandaria. Difícil apostar que Jungle Cruise tenha a mesma vida útil de Piratas do Caribe.
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