Krasinski faz mais barulho com outro Lugar Silencioso

Em 2018, um discreto filme de terror chamou a atenção para a até então insipiente carreira de diretor de John Krasinski, mais lembrado como o Jim de The Office. Um Lugar Silencioso (A Quiet Place) fez dinheiro mais do que suficiente nas bilheterias para garantir a realização da continuação, que foi feita e estava pronta há um ano esperando a reabertura dos cinemas. Chega agora Um Lugar Silencioso: Parte II (A Quiet Place Part II, 2020), que arrecadou nos Estados Unidos 48 milhões de dólares de sexta a domingo, mostrando que a população do país está disposta a sair de casa.

Com um prólogo de mestre, Krasinski consegue matar dois coelhos de uma vez: ele situa quem não viu o primeiro filme (ou se esqueceu do que viu) e ainda apresenta um personagem novo que terá grande importância para a trama. Voltamos ao dia 1 dos eventos que mudaram a vida dos Abbotts. Com as manchetes confusas na TV, já entendemos que as criaturas alienígenas chegaram e a destruição vai começar. Enquanto isso, todos acompanham um jogo de beisebol de garotos bem ao estilo das cidadezinhas vistas em produções de décadas passadas.

Mantendo a elegância e a economia do anterior, o diretor e roteirista mostra que dá para deixar muita coisa fora do quadro para focar em quem importa: as pessoas. Parte da destruição é sugerida com movimentos de câmera e uma montagem eficiente (desta vez, de Michael P. Shawver, de Pantera Negra, 2018). Temos novamente Emily Blunt como a mãe da família, com uma expressão de quem já passou por tanto que nada mais a surpreende. Ela precisa, com os três filhos, buscar um lugar para se abrigarem. Se, antes, Noah Jupe tinha grande destaque, quem fica com os holofotes agora é Millicent Simmonds. Os dois voltam a viver os irmãos Abbott, mas Regan ganha uma importância maior para a trama e sua intérprete não faz feio.

Enquanto Evelyn corre com os filhos, ela cruza o caminho do antigo vizinho, Emmett (Cillian Murphy, de Peaky Blinders), um sujeito solitário que claramente perdeu seus amados e se mostra amargurado. Por esse humor arredio, nunca sabemos se Emmett é uma figura confiável. Murphy sabe muito bem fazer esse tipo meio lá, meio cá, e evita clichês. Ele e Simmonds acabam roubando o protagonismo, deixando Blunt um pouco de lado. Nada que seja problema quando todos brilham. E ainda há lugar para a participação de Djimon Hounsou (de As Panteras, 2019), que aparece mais adiante. E há uma sequência que vai deixar apreensivo quem viu Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004).

Mesmo tendo mais informações sobre os monstros cegos de audição potentíssima, os humanos ainda se veem à mercê deles. Um Lugar Silencioso II é tão tenso quanto o primeiro. Perde no quesito frescor por ser a sequência, mas Krasinski se mostra ainda muito afiado. E a trilha de Marco Beltrami pontua tanto os diálogos quanto os silêncios, no tom certo. Mesmo deixando claro o momento em que a trama se passa, o filme é atemporal, vai seguir assustando plateias por muitos anos.

Krasinski participa, mas segue principalmente atrás das câmeras

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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