Muitas vezes lembrado por figurinos espalhafatosos e pelos filmes rasteiros, Elvis Presley foi um artista como nenhum outro até hoje conseguiu ser. Atingiu um status estelar que o permitiu dispensar seu sobrenome (ok, ajudou ter um nome diferente). Elvis foi um cantor que mudou o cenário musical para sempre e o documentário Elvis: The Searcher (2018) se debruça sobre essa figura para tentar decifrá-la. Os dois longos episódios do documentário, produzidos pela HBO Documentary Films, estão disponíveis na Netflix.
Dirigido pelo experiente Thom Zimny, que realizou Springsteen on Broadway (2018) para a Netflix na mesma época, The Searcher começa naquela que seria a volta do rei do rock. Elvis havia sumido no período em que serviu ao exército e se viu estrelando filmes ruins, obrigado por contrato. O show de 1968, transmitido pela televisão, marcaria a volta do artista à boa forma. Ou o enterraria de vez. Quem conhece um pouquinho da história já sabe o resultado.
Como aqueles filmes que começam num momento decisivo e usam flashbacks para contar a história prévia, Zimny volta na década de 40, mostrando a gênese do cantor – por assim dizer. Os primórdios envolvem Sam Phillips, claro, o descobridor de Elvis, responsável pela icônica gravação de That’s Alright, Mama na Sun Records. Desse estouro em diante, entendemos bem os caminhos trilhados por Presley e suas relações com músicos de apoio, familiares e até com sua eterna Priscila, que entrou em sua vida para nunca mais sair.
O documentário conta com vários depoimentos de quem esteve com Elvis em diversas situações, contribuindo para as muitas histórias que a obra traz e esclarece. Outros, como Tom Petty, Emmylou Harris e o próprio Bruce Springsteen, ajudam a elucidar sentimentos e decisões de Elvis que só quem pegou bastante estrada e fez muitos shows consegue dimensionar. E um ponto interessante: nenhum deles mostra a cara, deixando os holofotes para o biografado.
Mais no fim de sua vida, Elvis parecia muito excêntrico, quase desconectado da realidade. The Searcher nos ajuda a entender o que devia se passar naquela cabeça tão afetada por fama, dinheiro, isolamento e perfeccionismo. E sob a sombra do “Coronel” Tom Parker, uma figura sombria que, ao mesmo tempo que teve um papel importante na formação de uma lenda, também a sufocou.
Depois de quase três horas e meia, dá para entender um pouco melhor o mito Elvis. Cobrindo boa parte de sua jornada, o documentário não pretende apresentar toda a vida dele, seria preciso uma série de várias temporadas. Fãs mais radicais podem indicar que faltou mencionar um episódio x ou y, mas para isso temos a Wikipédia.
A ideia em The Searcher é tentar entender melhor quem era aquele cara que cantou, tocou um violão e se remexeu de uma forma que os jovens idolatraram e os pais consideraram ofensivo. Ele rompeu barreiras, ensinou o Forrest Gump a dançar e libertou toda uma geração. E as seguintes, que passaram a ver a música de outra forma. Difícil hoje é achar um artista que não se diga influenciado por Elvis.
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