Canal Brasil apresenta a divertida Hit Parade

Os penteados engraçados, figurinos espalhafatosos e artistas exagerados dos anos 80 davam a entender que foi uma época muito alegre. Mas as maracutaias de bastidores estavam pegando fogo, regadas a muita cocaína. Mudando nomes e adaptando situações, a série Hit Parade estreou no canal Brasil divertindo o público com muita qualidade e histórias interessantes, mesmo para quem está por fora do que houve na famigerada “década perdida”.

Referência no meio do jornalismo cultural, André Barcinski lançou em 2014 o livro Pavões Misteriosos, que conta histórias deliciosas sobre a indústria fonográfica nacional dos anos 70 e 80. Desde 2015, existe o projeto de adaptar esses fatos para uma série ficcional. Depois de muita luta para conseguir financiamento e fechar todos os detalhes, que nunca são simples no Brasil, Barcinski havia chegado a Marcelo Caetano (do elogiado Corpo Elétrico, 2017) para dirigir os oito episódios.

O diretor foi quem sugeriu trazer a produção para a sua Belo Horizonte natal. Na trama, imaginamos de cara tratar-se de Rio ou São Paulo, mas é BH que mantém mais uma lógica temporal em suas construções, facilitando a simulação da época. Talvez por isso, o elenco conte com muitos mineiros. Bárbara Colen, muito lembrada hoje por Bacurau (2019), volta a trabalhar com Robert Frank, colegas em No Coração do Mundo (2019). Outro mineiro célebre é Odilon Esteves, rosto muito visto no teatro, TV e Cinema, onde estreou com Batismo de Sangue (2006).

A trama de Hit Parade começa quando Simão (Tulio Starling, de Bula, 2020) está desiludido com as parcas oportunidades de tocar suas músicas nos bares e restaurantes noite afora. Incentivado pela namorada (Colen), ele mete o rabo entre as pernas e pede seu velho emprego de volta. O patrão, um produtor musical badalado (Frank), faz questão de menosprezar Simão e acaba passando-lhe a perna. Indignado, o rapaz acaba encontrando um cenário propício para ele mesmo abrir uma gravadora. Começa aí o duelo entre Simão e Missiê Jack.

É muito comum ver séries americanas em que os capítulos não têm muita ligação entre eles, com apenas uma traminha fraca de fundo. Como naquelas criminais, com o vilão da semana, que é preso depois de 40 minutos e esquecido. Aqui, há um assunto principal a ser tratado também, mas ele leva o núcleo da série adiante, não sendo uma mera desculpa. E é curioso, sim, que num episódio conheçamos um cantor veterano que lança músicas temáticas, para no outro ver um sujeito qualquer personificando uma estrela internacional chutando um inglês constrangedor ou um personagem cigano sendo criado do zero.

Com ótimas anedotas, mas não só composta delas, Hit Parade é uma série produzida com baixo orçamento, mas só sabemos disso através de entrevistas dos envolvidos. Tudo é muito criativo, dos artistas inventados às músicas que eles cantam, e imediatamente vêm à cabeça algumas figuras reais do período. O “jornalista de celebridades” (vivido por Luciano Falcão) parece uma mistura de Walter Mercado e Fernando Collor. Algo como assistir a Bingo: O Rei das Manhãs (2016), com muitas referências. Não fica claro se será apenas essa temporada, mas já ficamos na expectativa por mais.

O programa do Lobinho é o Viva a Noite da ficção

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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