Ao pensarmos nos grandes compositores do pop/rock nacional, costumam vir à mente os nomes de Renato Russo, Cazuza, entre outros medalhões. Por preconceito ou falta de conhecimento, um deles é relevado a um injusto papel menor: Alexandre Magno Abrão, mais conhecido como Chorão. Líder do Charlie Brown Jr., ele compunha, cantava, produzia, gerenciava… Basicamente, fazia tudo na banda. Oito anos após a morte dele, o documentário Chorão: Marginal Alado (2021) traz um pouco de luz sobre essa figura.
Em meio ao frenesi do Oscar, desbancando superproduções e trabalhos elogiados de gente famosa, Marginal Alado estreou em primeiro lugar nas plataformas digitais e mobilizou um público imenso. Essa é uma pequena prova da importância que Chorão segue tendo para seus fãs. Mas é preciso ressaltar que a obra não interessa apenas a estas pessoas: ela conta a história de uma época. E de uma pessoa bem controversa, de várias facetas, que desempenhou papéis diversos.
Em meio a produtores e parceiros de peso, o diretor Felipe Novaes faz a sua estreia à frente de um longa com o desafio de enriquecer a visão que temos de uma celebridade tida por muitos como um babaca, envolvido em agressões físicas e verbais com outros artistas. Não preocupado em desculpar seu biografado, Novaes mescla depoimentos, filmagens caseiras e reportagens de então para mostrar que Chorão era sim um cara complicado. E, ao mesmo tempo, foi a mente que levou o Charlie Brown Jr. a ser a maior banda do país.
Além de compor e cantar, Chorão passou a ser o produtor e empresário da banda, além de sempre ter sido a voz deles. Nos bons e nos maus momentos, era o frontman que dava a cara a tapa, como lembra João Gordo, outro desbocado líder de banda. O documentário mostra a loucura de se fazer shows o ano inteiro, a proximidade com álcool e drogas, as brigas internas, a dificuldade de se estar longe da família. Em menos de 80 minutos, dá para conhecer bem a rotina de Chorão e as principais questões que ele enfrentava.
Não se trata de cobrir toda uma vida. Marginal Alado escancara fatos que conhecíamos por alto, trazendo os próprios envolvidos para narrarem. Personagens como o baixista Champignon, que era uma espécie de irmão mais novo do vocalista, e a companheira de Chorão, Grazi Gonçalves, tornam as coisas mais marcantes e intimistas. Champignon morreu meses depois do amigo, não sem antes gravar entrevistas aparentemente sinceras com a equipe do documentário.
Em meio a aproximadamente 1500 horas de filmagens de naturezas diversas, Felipe Novaes, o co-roteirista e montador Matias Lovro e os produtores Hugo Prata e Fábio Zavala tiveram uma tarefa difícil. Selecionar apenas o que ajudaria a contar a história de Chorão, sem torná-lo mais palatável do que era, mas não menos genial. Gostando-se ou não da música deles, é bem fácil se entreter com Chorão: Marginal Alado. É como se, mais uma vez, eles tivessem invadido a cidade e feito o coro comê.
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