Ver pessoas se unindo e buscando um resultado em comum é emocionante. Gente que compartilharia uma ou outra característica, mas que são bem diferentes no geral. Gente que entende as diferenças e se une no objetivo de todos. Gente que pressiona o governo e quem mais precisar, que não arreda o pé até ser ouvido. É sobre isso o documentário Crip Camp – Revolução Pela Inclusão (2020), disponível na Netflix e indicado ao Oscar na categoria.
Numa primeira olhada, seria um retrato de um acampamento que, na década de 70, passou a receber jovens com deficiências variadas e o efeito que isso teve neles: conhecer outros como eles, passando por dificuldades parecidas, por preconceito. Mas aí entra a diversão, os jogos, as brincadeiras entre pessoas que pensam parecido e se ajudam, cada um compensando uma necessidade do outro. Sair temporariamente de uma sociedade que os via como doentes para encontrar pares.
Se fosse só isso, já seria muito. O acampamento faz uma diferença gigantesca nas vidas daqueles jovens. Filmes sobre a adolescência saem aos montes, mostrando as questões de sempre, como as mudanças físicas, os hormônios, os garotos/as garotas. É muito importante ver um ponto de vista diferente. Aqueles jovens tinham problemas até com a forma como eles mesmos se viam. E, convenhamos, não conseguir se virar durante a noite deve ser algo excruciante.
O acampamento é só o ponto de partida. Fazendo aqueles jovens acreditarem em seus potenciais, ele propiciou a eles lutarem por direitos que outros já tinham. Coisas simples, como ir e vir pela cidade no transporte público ou estudar nas mesmas escolas que os vizinhos. É estranho pensar que a luta dos negros pelos direitos civis é muito mais coberta pelo Cinema que a dos deficientes. Você pode até encontrar uma pessoa com deficiência num filme, como no horroroso Fuja (Run, 2021). Mas é raro. E, como um personagem coloca, trata-se da maior minoria de todas. Tanto que outros grupos se juntam à batalha deles.
Um dos diretores de Crip Camp é um ex-frequentador do acampamento, James Lebrecht. Se Nicole Newnham, a outra diretora, tem mais experiência na bagagem (como The Revolutionary Optimists, 2013), Lebrecht é um técnico de som que se arriscou a dirigir para mostrar sua paixão pelo tema e pelo acampamento Jened, que mudou tantas vidas – direta ou indiretamente. Como se precisasse, o filme ainda traz ótimas músicas em sua trilha, um campista chega a tocar Truckin’, do Grateful Dead, no violão. Bem à cara de Woodstock, mas muito mais significativo para aquelas pessoas.
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