O Tigre Branco e a realidade das castas baixas da Índia

É curioso como certas obras parecem se repetir. Mas, no caso do novo sucesso da Netflix, O Tigre Branco (The White Tiger, 2021), a comparação com outros filmes de sucesso como Quem Quer Ser um Milionário? (2008) e Parasita (2019) não pode ser recriminada. Na verdade, a história desses filmes  acontece na vida real, e acontece muito.

Balram (Adarsh Gourav) é um inteligente e esperto indiano de casta baixa que tenta subir na vida como motorista de uma família da cidade grande. Desde a infância, o personagem é comparado a um Tigre Branco, um raro ser que nasce uma vez a cada geração. O problema é que, no país, as oportunidades são poucas graças à sua estrutura de sociedade. Por isso, O Tigre Branco mostra que, muitas vezes, é preciso quebrar essa estrutura de uma maneira não tão legal.

Balram, no início do longa, já é alguém bem-sucedido. Mas, em flashbacks, acompanhamos sua ascensão desde seu vilarejo até chegar na capital, Nova Deli. E aqui as comparações com as outras duas obras começam a ser ainda mais claras. Se em Quem quer ser um Milionário?, acompanhamos a jornada de um jovem à ascensão social que acontece por um jogo de televisão, aqui Balram encara a vida real sem holofotes de mídia ou qualquer outra coisa. Ele não é um mero motorista. Ele é, antes de tudo, uma pessoa de casta baixa. E isso lhe é caro demais para que sua glória venha por meio de sorte ou sem um esforço a mais.

Por outro lado, a jornada é dura como a da família sul-coreana em Parasita. O que muda é o cenário e os desafios para alguém que nasceu predestinado a estar sempre na miséria sair da sua realidade. Se a família sul-coreana se vale de meios não muito legítimos para isso, Balram não fica atrás. Essas rimas de roteiro, aliadas ainda ao fato de Balram ser motorista, como o pai em Parasita, não são forçadas como poderia se esperar depois do sucesso sul-coreano. É uma via possível em um país que tanto segrega a sua população pobre.

A jornada de Balram não é das mais louváveis – para não dizer NADA louvável –, mas a sua luta e seu instinto de sobrevivência trazem ao espectador aquela torcida mesmo que não merecida por conta dos atos que o personagem acaba cometendo ao longo do filme. Ainda assim, choca ver uma história plausível de alguém que quer subir na vida, mesmo que a vida, ou a sociedade, não dê qualquer chance para isso. Portanto, é preciso se virar.

O Tigre Branco nos lembra que nem tudo na Índia é Gandhi. Se Quem Quer Ser Um Milionário? traz uma improvável e empolgante ascensão social, o novo sucesso da Netflix mostra isso de maneira mais crua e terrível. Bem como Parasita. Os pobres do mundo estão perdendo a paciência. Ainda bem. Mesmo que a duras penas.

Uma ascensão social é ainda mais difícil na Índia

Kael Ladislau

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