A acidez contagiante de Fran Lebowitz e sua relação com NY

Dirigida por Martin Scorsese, a minissérie documental Faz de Conta que NY É uma Cidade (Pretend It’s a City) foi lançada esse mês na Netflix e conta com a escritora norte-americana Fran Lebowitz, que mora em Nova York há mais de 50 anos, apresentando suas diversas críticas à cidade. Com um roteiro aparentemente livre, a minissérie traz memórias e situações vividas por Lebowitz na Big Apple em formato de um bate papo com o próprio diretor.

A escritora e Scorsese compartilham não só a posição de cronistas de Nova York, ainda que o façam de maneiras distintas – ela enquanto comentadora e escritora, ele como cineasta –, mas também uma amizade de longa data que resultou, inclusive, na participação de Lebowitz no filme O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, 2013). A amizade deles fica ainda mais evidente no documentário à medida que Lebowitz relata suas histórias com bastante naturalidade e liberdade, tendo ao lado as incessantes risadas de Scorsese.

Contrária não só às muitas mudanças ocorridas em Nova York, mas também à rapidez delas, Lebowitz critica tanto o custo de vida da cidade quanto o fato de o poder público demonstrar se preocupar mais com os turistas do que com a própria população local. Oscilando entre momentos de entrevistas em formato talk show e cenas vagando pelas ruas da cidade, Scorsese capta as opiniões da escritora sobre diversos assuntos – esporte, arte, música etc. Ainda que Lebowitz apresente excelentes argumentos, em alguns momentos dá-se a entender que somente o seu ponto de vista é o correto. Afinal, ela é a protagonista.

Famosa pela frase “Think before you speak. Read before you think” (“Pense antes de falar. Leia antes de pensar”), a escritora remonta sua trajetória desde a infância até o presente, ressaltando a presença de figuras como Charles Mingus, Toni Morrison, dentre outros. Ainda que seja apresentada como escritora, na minissérie fica evidente que Lebowitz é muito mais conhecida por suas opiniões políticas e sociais do que por seus trabalhos publicados – mesmo porque há décadas ela não lança livros.

Como ela mesmo afirma: “As pessoas frequentemente ficam furiosas comigo porque estou cheia de opiniões”. Nos últimos anos, inclusive, Lebowitz expressou publicamente seu posicionamento contrário a Donald Trump, embora esse não seja um assunto trabalhado na obra. Apesar de todas as queixas sobre a conturbada “cidade que nunca dorme”, fica claro que a escritora não moraria em outro lugar, evidenciando a relação de amor e ódio com Nova York.

O apartamento precisa ser grande, já que a escritora tem uma biblioteca numerosa

Lívia Assis

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