Longe do físico que deveria ter (e que o título original reforça), Mel Gibson (de Os Mercenários 3, 2014) é uma versão no mínimo inusitada do Papai Noel. Mal humorado e cansado de tantos anos de trabalho, ele lamenta o fato de tantas crianças no mundo serem malcriadas. Assim, elas não ganham presentes e o subsídio governamental que ele recebe diminui. Com uma verba cada vez menor, fica difícil manter a fábrica e os muitos funcionários trabalhando.
Essa é a premissa de Entre Armas e Brinquedos, título nacional ridículo para Fatman, disponível no Now. Na falta de brinquedos, Chris Cringle se vê obrigado a aceitar a proposta dos militares para produzir armas. E sua linha de produção é extremamente competente, o que leva a uma alta rentabilidade. Essas possíveis discussões sobre capitalismo, militarismo e belicismo nunca são desenvolvidas, apenas correm por fora. Uma vez apresentado o protagonista, conhecemos os demais personagens, que farão a trama andar.
Em outra cidade, entra em cena um garoto rico que tem vários ressentimentos. Ele vive com a avó, que o controla de perto, e não tem qualquer contato com os pais. Para piorar, ganha de Natal um pedaço de carvão – presente destinado às crianças ruins. Acostumado a ser o primeiro em tudo, ele chega a sequestrar e ameaçar a coleguinha que tem um projeto de ciências melhor do que o dele. Está explicado o pedaço de carvão.
Dando vazão à raiva que sente, Billy (Chance Hurstfield, de Bons Meninos, 2019) contrata um assassino profissional para eliminar Chris. O Magrelo, como o matador é conhecido, aceita a tarefa prontamente, tendo ele também seus ressentimentos com o gordo Cringle. Pelos apelidos, já percebemos que os dois estavam destinados a serem antagonistas. Walton Goggins (de Tomb Raider: A Origem, 2018) compõe um vilão metódico, focado, que nunca se desvia de seu alvo.
Temos, então, o quadro de Entre Armas e Brinquedos montado. O Papai Noel de Gibson é um pouco como o Batman de Ben Affleck: um sujeito desiludido, que vê as dificuldades de cumprir sua tarefa e segue lutando. Como se não tivesse problemas o suficiente, ainda precisa lidar com Billy, o Magrelo e os militares. Tudo isso numa fotografia gélida, num lugar não identificado que parece ser o Alasca. A natureza de Chris, que parece ter o fator de cura do Wolverine, nunca fica clara, sendo apenas um dos muitos pontos deixados sem explicação.
Com roteiro e direção dos desconhecidos irmãos Nelms, Eshom e Ian, o longa perde força na segunda metade e tem um final bobinho, não conseguindo corresponder à premissa interessante. Não deixa de ser uma diversão escapista para uma sessão da tarde. Quem gosta de uns tiros, brigas e explosões vai ficar bem satisfeito. E quem sabe esse não é um filme de origem e o Papai Noel vira uma franquia?
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