Escrita em 1982 por August Wilson, a peça Ma Rainey’s Black Bottom ganhou duas versões na Broadway e agora chega ao Cinema pela Netflix. Chamado no Brasil de A Voz Suprema do Blues (2020), o longa traz um ótimo elenco encabeçado por Viola Davis e o saudoso Chadwick Boseman, em seu último papel. Antes mesmo do lançamento, já se falava em indicações a Oscars para os dois, tamanho o barulho que causaram.
A cantora Ma Rainey, originalmente Gertrude Pridgett, era conhecida como a “Mãe do Blues” e alegava ter inventado o termo blues, quando perguntaram a ela que tipo de música cantava: uma música triste. Cantou com gente famosa, como Louis Armstrong, Tommy Dorsey e Bessie Smith, com quem teve uma relação mais próxima. Entre 1910 e 1920, a demanda por músicos negros cresceu e Ma começou a gravar com a Paramount Records. A peça de Wilson imagina como teria sido a gravação da canção Black Bottom, em dezembro de 1927.
Depois de Theresa Merritt e Whoopy Goldberg no teatro e Mo’Nique num longa da HBO sobre Bessie Smith, é a vez de Viola Davis encarnar a personagem. Vencedora do Oscar por Um Limite Entre Nós (Fences, 2016), também baseado numa peça de Wilson, Davis compõe uma mulher arrogante que parece ter sofrido para chegar na posição de destaque que alcançou. Ma Rainey tem uma banda que a acompanha nas gravações e nas apresentações ao vivo e deixa muito claro que é ela quem manda. A arrogância é claramente um escudo contra uma opressão que vem de todos os lados.
Enquanto a cantora não chega ao estúdio, conhecemos os demais músicos, três veteranos que baixam a cabeça para a líder e um jovem impetuoso que sabe ter um caminho de sucesso à frente. Nesse papel, Boseman, mais lembrado como o Pantera Negra da Marvel, mostra ser um intérprete de grande profundidade. Seu Levee esconde, sob diálogos ágeis e muita vaidade, uma insegurança de quem está sempre se provando e buscando os holofotes.
Por trás da questão musical, que inclui faixas deliciosas, temos uma luta contra o racismo e o machismo. Rainey precisou vencer muitas barreiras, já que o mundo era dominado por homens brancos. Como pode-se presumir, são pontos que permanecem atuais. O dono do estúdio detém os meios de produção e dita as regras. Uma pessoa como Rainey anda no limite: ela se coloca como indispensável, mas sabe que não pode forçar a barra, ou será excluída. Davis mostra isso no olhar. E Levee, ainda com uma longa jornada a trilhar, se acha mais importante do que é aos olhos dos demais. Boseman adota um sorrisinho cínico que lhe cai muito bem.
Com grande dificuldade de evitar uma cara de teatro filmado, que não casa bem com a linguagem cinematográfica, o diretor George C. Wolfe (de A Vida Imortal de Henrietta Lacks, 2017) acerta em fechar uma metragem curta. Em 90 minutos, temos um roteiro objetivo (de Ruben Santigo-Hudson, de Lackawanna Blues, 2005) que dá a devida atenção aos assuntos que pretende abordar. A Voz Suprema do Blues nunca chega a ser cansativo e pega fogo quando Davis e Boseman estão em cena. Uma notável despedida para o ator, uma prova de que ele estava sim rumo à grandeza dos astros do Cinema.
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