Ocupando as primeiras posições entre as obras mais vistas na Netflix desde o seu lançamento, O Gambito da Rainha (The Queen’s Gambit, 2020) é um fenômeno semelhante à sua protagonista. Adaptando um livro tido como difícil, a série conta em sete episódios a história de uma menina órfã que se destacou num mundo prioritariamente masculino: o dos campeonatos de xadrez. E teve, como consultores, duas referências do jogo, para tornar as partidas críveis até para quem é especialista nele.
Publicado em 1983, o livro de Walter Tevis teve seus direitos de adaptação adquiridos pelo produtor Alan Scott em 1992, mesmo ele sabendo se tratar de um material complicado de levar ao Cinema. O ator Heath Ledger (o Coringa de O Cavaleiro das Trevas) pretendia fazer sua estreia como diretor e já estava conversando com Scott, que escreveu uma primeira versão do roteiro. Ledger faleceu em 2008 e o projeto ficou suspenso até a chegada de Scott Frank, vindo dos bem-sucedidos Logan (2017) e Godless (2017).
Juntos, os dois Scotts reescreveram o roteiro e produziram a série, com Scott Frank dirigindo os sete episódios. E Anya Taylor-Joy (atualmente nos cinemas em Os Novos Mutantes, 2020) foi convocada para o complexo papel principal, como uma garota que cresce em um orfanato e aprende a jogar xadrez com o zelador. Dos porões do orfanato para o mundo, Beth Harmon se torna famosa pela facilidade com que derrota todos os nomes estabelecidos, ganhando um espaço até então inédito para uma mulher.
Taylor-Joy e a pequena Isla Johnston se revezam no papel, quando a história vai e volta no tempo, e ambas fazem um ótimo trabalho. A mais velha tem um olhar hipnotizante e uma presença magnética. Taylor-Joy nos leva na jornada de Beth: além de desenvolver seus gostos e preferências, como suas roupas, ela cresce no jogo estudando todas as jogadas conhecidas (como a própria gambito da rainha). O problema de Beth é a grande disposição ao vício, passando de pílulas calmantes para todo tipo de bebida alcóolica.
Com figurinos maravilhosos e cenários detalhistas, a série recria as décadas de 50 e 60, mostrando também o modo de vida da época. Um importante elemento que ajuda a caracterizar os momentos mostrados é a trilha sonora. Além das faixas originais, criadas por Carlos Rafael Rivera (também de Godless), ótimas músicas, de diversas bandas, foram escolhidas, se tornando uma atração à parte. Artistas como Kinks, Monkees, Peggy Lee, Donovan, Martha and the Vandellas, Shocking Blue e muitos outros podem ser ouvidos na série.
Além das duas intérpretes de Beth, O Gambito da Rainha conta com mais atores interessantes. Entre os já estabelecidos, temos Thomas Brodie-Sangster (de Game of Thrones), Harry Melling (de O Diabo de Cada Dia, 2020), Marielle Heller (diretora de Um Lindo Dia na Vizinhança, 2019) e Bill Camp (de The Outsider), que vive o zelador, Sr. Shaibel. Das caras menos conhecidas, os destaques são Jacob Fortune-Lloyd (de Star Wars: A Ascensão Skywalker, 2019 – acima) e a estreante Moses Ingram, uma boa surpresa como a amiga de infância de Beth.
O foco de O Gambito da Rainha é o jogo de xadrez e era necessário ter veracidade nessa área. Por isso, foram contratados para auxiliar a produção o campeão mundial Garry Kasparov e o técnico Bruce Pandolfini. Mas outras discussões importantes surgem na série, usando o xadrez apenas como escada. A questão da dependência química de Beth é o ponto principal, além do papel e do reconhecimento da mulher naquelas décadas. São sete episódios de muito conteúdo.
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Ótima análise...
Estou escrevendo um texto sobre a Série (como faço com todas as séries e/ou episódios) e o seu texto retrata bem a série, sem spoilers.
Efetivamente, uma série excepcional, muito além de passatempo ou somente aqueles comentários do tipo "legalzinha" (o que infelizmente gera este frisson pela série).
EXCELENTE PRODUÇÃO. VALE A PENA CONFERIR.
PARA OS AMANTES DO XADREZ , O GAMBITO DA RAINHA E UMA EXCELENTE PRODUÇÃO. VALE A PENA CONFERIR.
Como sempre, super preciso na análise.