Outubro é mês de assistir a filmes de terror e a produtora Blumhouse aproveitou a data para valorizar a diversidade de diretores que fogem do padrão da grande maioria. Por isso, Jason Blum assinou com a Amazon um contrato que prevê o lançamento de oito filmes, sendo que quatro deles já estão disponíveis no Prime Video. Conheça abaixo dois deles.
Lançado no Festival de Cinema de Toronto em setembro de 2018, Mentira Incondicional (The Lie, 2018) teve a distribuição garantida pelo projeto Welcome to the Blumhouse. Escrito e dirigido pela canadense Veena Sud, é refilmagem de um longa alemão de 2015 e marca o reencontro de Sud com seus atores na série The Killing: Mireille Enos e Peter Sarsgaard.
Na trama, temos Enos e Sarsgaard como um casal separado, pais de Kayla (Joey King, dos dois A Barraca do Beijo), uma adolescente que vai passar uns dias em um acampamento de ballet. Enquanto o pai a está levando, eles passam por uma amiga dela (Devery Jacobs, de Deuses Americanos) que está esperando o ônibus e oferecem carona. Depois de uma parada no acostamento para banheiro, Britney some e Kayla admite tê-la empurrado em um rio.
A partir daí, sempre em cenários frios e tristes, temos os conflitos do ex-casal na tentativa de proteger a filha de uma possível condenação. Somos levados a crer que a cabeça da menina ficou bagunçada devido ao divórcio dos pais, como se filhos de casais divorciados se tornassem adoráveis psicopatas. Se a premissa já é um tanto absurda, as coisas rapidamente ficam piores, com os adultos tomando as piores decisões possíveis e a garota tendo um comportamento ridículo até para a idade dela.
Sarsgaard e Enos têm boas atuações, assim como os coadjuvantes. Só King é um bocado sabotada pelo roteiro, que a coloca em situações difíceis e complicam o seu trabalho. É uma dura missão compor uma menina tão birrenta e cujo comportamento muda tão drasticamente. O final, que deveria chocar pela sagacidade, é a cereja de um bolo irritante. São 90 minutos sofridos para o público, que custam a passar.
Outra atração no pacote da parceria entre a Blumhouse e a Amazon é Noturno (Nocturne, 2020), que já denuncia sua ligação com a música erudita desde o título. O longa nos apresenta a duas irmãs gêmeas com grande talento ao piano. Por algum motivo, só uma delas tem o devido reconhecimento, e isso não se resume apenas ao instrumento, mas à vida social também. Uma é popular, tem namorado e é disputada pelos professores, enquanto a outra segue na sombra da irmã.
Como as duas não são idênticas, a produção pôde chamar duas atrizes para vivê-las. Ambas são lindas, mas uma delas é tratada como patinho feio. Tirando essa estranheza, o resto do filme funciona bem e constrói uma atmosfera de suspense bem eficiente. Elas estudam e moram em uma conceituada escola de música e o clima é sempre de competição, pressão e tristeza. Ainda mais porque uma colega morreu há pouco.
Vividas com sensibilidade por Sydney Sweeney (de Era Uma Vez Em… Hollywood, 2019) e Madison Iseman (de Annabelle 3, 2019), as duas têm ações e reações que flutuam de acordo com o que acontece à volta delas, nunca caindo em extremos estereotipados. Por mais que cheguem a ter raiva uma da outra, elas têm momentos ternos, quando todo o histórico de cumplicidade delas vem à tona. Até então, eram muito unidas, mas Juliet (Sweeney) se cansou de ser a segunda e resolveu tomar o protagonismo de Vivian (Iseman). Nem que, para isso, precise de uma ajuda sobrenatural…
Como fazem alguns bons filmes de terror, Noturno sugere muito e mostra pouco e ainda deixa um final um pouco em aberto, cabendo interpretações. Não deixa de ser uma estratégia duvidosa, já que joga a resolução para o público, mas funciona bem. Sweeney, cuja personagem na série Euphoria tem uma forte carga sexual, se dá bem também como uma menina tímida, retraída e ressentida. Mérito também da roteirista e diretora estreante Zu Quirke, que faz ótimas escolhas e nos deixa no aguardo por novos trabalhos.
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Assisti nocturne e gostei da premissa que envolve e desperta o lado mais invejoso do ser humano, mas acredito que a história poderia ficar um pouco mais chamativa.