Garotos são a salvação contra os vampiros no Bronx

Mais um produto a alimentar a nostalgia de quem cresceu nos anos 80, Vampiros X O Bronx (Vampires vs. The Bronx, 2020) é uma aventura rápida e divertida. Sempre mantendo um tom bem-humorado, o filme toca em alguns assuntos importantes, de ordem econômica, mas busca apenas entreter. Em menos de 90 minutos, tudo é resolvido de forma satisfatória, sem grandes pretensões, como se fosse um episódio mais longo de uma série como Stranger Things.

Misturando o clima de obras como Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, 1987), Os Goonies (The Goonies, 1985) e outras da mesma década, o longa vai direto ao assunto, mostrando que vizinhos indesejáveis chegaram na região e é questão de tempo até a identidade deles ser descoberta. Sob a fachada da imobiliária Murnau, numa clara homenagem ao diretor de Nosferatu (1922), os vampiros estão adquirindo imóveis sob a desculpa de modernizar a vizinhança.

O fenômeno pode ser observado em grandes centros urbanos e chama-se gentrificação. Os valores aumentam, os moradores não conseguem se manter e vão se mudando para a periferia. O antigo salão de cabeleireiro se transforma numa lanchonete chique e, assim, a cara do bairro vai mudando. Os conhecidos entregam os imóveis e os marcos da infância têm um fim. Um deles, para os garotos da trama, é a Bodega do Tony (The Kid Mero, da série Desus & Mero), a lanchonete onde eles se reúnem para jogar videogame.

Miguel, o Prefeitozinho (Jaden Michael, de The Get Down), é o garoto mais conhecido da área, está sempre tentando resolver os problemas alheios e prepara uma festa para arrecadar fundos para ajudar Tony. Ele e os amigos Bobby (Gerald Jones III, também de The Get Down) e Luis (Gregory Diaz IV, de Unbreakable Kimmy Schmidt) se alternam entre suas causas, brincadeiras e as propostas de trabalho do chefe do crime local.

Em meio ao sumiço de conhecidos e à chegada de novos vizinhos bem estranhos, o trio logo deduz o inevitável: são vampiros se alimentando da parcela menos importante da população, daqueles de quem ninguém sentirá falta. As críticas sociais são bem superficiais e rapidamente aparecem os dentuços chupadores de sangue para movimentarem as coisas. A fotografia urbana aproveita bem o bairro, praticamente o tornando um personagem. O responsável, Blake McClure, já havia trabalhado com o diretor Osmany Rodriguez em séries como Saturday Night Live, o que deve facilitar a sintonia.

O roteiro de Blaise Hemingway, baseado numa história do próprio McClure, é enxuto e nem por isso deixa de lado as referências do gênero. O fato de um dos meninos ser aficcionado por terror faz com que ele vá soltando os clichês e o público pode acompanhar, caso não os conheça. Um elemento ou outro é esperado, mas a mistura funciona bem. Ainda temos como bônus a participação de algumas caras conhecidas, como Shea Whigham (de Coringa, 2019), Sarah Gadon (de Castle Rock) e Method Man (do Shaft de 2019). E uma ponta de Zoe “Gamora” Saldana.

Podia ser uma banda de rock, mas são os novos vampiros da vizinhança

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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