Em tempos de isolamento social, os destaques têm sido, claro, os filmes para se ver em casa. E a Netflix, que tem grande destaque nesse filão, ainda apela e reúne um elenco estrelado para a adaptação de um livro premiado. O Diabo de Cada Dia (The Devil All the Time, 2020) bebe na fonte dos clássicos policiais americanos e traz grandes figuras que não são necessariamente boazinhas.
A história dá alguns saltos no tempo para nos apresentar a personagens ao longo de um período. Um soldado volta da guerra, constitui família e logo uma tragédia se avizinha; um casal de serial killers pega caroneiros e abandona os corpos no mato; um policial aspira se candidatar a xerife da cidadezinha. Acompanhamos estas três linhas narrativas e sabemos que, de alguma forma, elas vão se cruzar.
Em seus quase 140 minutos de duração, o longa nos entrega as informações que precisamos para entender as motivações e as dinâmicas entre aquelas pessoas. Coisas acontecem pontualmente, mantendo o interesse, e as locações não deixam nada a desejar. Entendemos a geografia das cidades e logo nos sentimos em uma delas, com aquelas tradicionais igrejas protestantes, cujo pastor acaba tendo um papel importante na comunidade.
A religião é certamente um dos focos de O Diabo de Cada Dia – nota-se pelo título. Temos desafios a vencer diariamente, entre traumas, tentações e conflitos surgidos de situações ou relações. Naqueles estados conservadores, é comum a religião fazer parte das vidas dos cidadãos, que estão habituados a irem à igreja aos domingos e até se sentem culpados se faltarem. Isso coloca grande responsabilidade nas mãos do líder religioso, e ele faz o uso que lhe convier. E há os que cruzam o limite do fanatismo, como vemos nos jornais hoje.
No papel principal da trama, temos o “Homem-Aranha” Tom Holland mostrando uma faceta mais séria, como um órfão que precisou aprender a se virar bem cedo. Também do Universo Cinematográfico Marvel, temos o “Soldado Invernal” Sebastian Stan dando ao policial que vive o ar dúbio necessário. Outro super-herói que dá as caras é o novo Batman, Robert Pattinson (de O Farol, 2019), muito convincente na pele do novo pastor da cidade. Como produtor, temos ainda Jake Gyllenhaal, o Mysterio de Longe de Casa (2019), mais Marvel.
Além dos já citados, o elenco ainda guarda nomes como Jason Clarke, Bill Skarsgard, Riley Keough, Haley Bennett, Mia Wasikowska, Harry Melling e Eliza Scalen, todos vistos recentemente em grandes produções. Entre tantos talentos, fica difícil apontar destaques, mas ainda assim é importante ressaltar o belo trabalho de Holland e Pattinson. Enquanto o primeiro surpreende mostrando uma profundidade desconhecida (ou nem tanto, vide O Impossível, 2012), o segundo só confirma algo que vem mostrando há alguns anos.
O diretor Antonio Campos (filho do jornalista Lucas Mendes) vem construindo uma carreira variada, com episódios de séries como The Sinner e O Justiceiro e filmes como o interessante Christine (2016), além de vários outros como produtor. Responsável pelo roteiro ao lado do irmão, Paulo Campos, ele mantém a dinâmica do livro de Donald Ray Pollock, dividindo o tempo em cena entre os personagens e dando a devida atenção a todos. E o próprio Pollock é o narrador, evitando didatismos ou exposições exageradas. Nada melhor do que estar bem perto para garantir a qualidade.
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