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Better Call Saul se prepara para a despedida

por Kael Ladislau

Better Call Saul estreou em 2015 embalada pelo sucesso de sua série origem, Breaking Bad, para contar a história de um de seus personagens mais marcantes: o advogado charlatão Saul Goodman (Bob Oderkirk). Hoje, 5 anos e temporadas depois, Peter Gould e, especialmente, Vince Gilligan, criador de ambas séries, podem se orgulhar de ter criado uma obra tão boa quanto a original.

Essa nova temporada mostra o início da jornada de Jimmy McGill como Saul Goodman, depois de um período sem poder advogar. Kim Wexler (Rhea Seehorn), que mesmo abismada com a decisão pelo novo nome do parceiro, permanece ao seu lado como o ponto de juízo dando equilíbrio a um casal tão antagônico.

Do outro lado da história, vemos Mike (Jonathan Banks) cada vez mais envolvido nas operações de Gus Fring (Giancarlo Esposito), sem esquecer de Nacho Varga (Michael Mando) que se vê em meio a um conflito entre Fring e Lalo Salamanca (Tony Dalton).

Os núcleos se encontram

Quem acompanha a série desde o início sabe que uma das coisas que mais incomodava era justamente a separação desses núcleos, cada vez mais independentes um do outro e que, vez ou outra, se encontravam. Na quinta temporada, esses núcleos finalmente se relacionam e encaixam (de maneira magistral, marca constante de Gilligan) os detalhes que vemos em outros anos.

Mais do que um simples encontro entre os núcleos Saul Goodman e do Cartel, vemos uma história que entrega a tensão, a atmosfera e a qualidade da série-mãe. Isso, por mais conhecidos que sejam os finais de alguns dos personagens principais, especificamente aqueles que aparecem em Breaking Bad.

Rhea Seehorn e Lalo são os destaques da temporada

Qualidade é o que não falta nesse quinto ano. A começar por Rhea Seehorn, o que não é nenhuma novidade. Kim é aquela personagem dita coadjuvante que rouba a cena ao longo de toda a temporada, com personalidade, carisma e pulso firme. Neste novo ano, a advogada co-estrela a série a lado do parceiro, se envolvendo e definindo toda a trama.

Outro ponto de atenção é o Lalo Salamanca de Dalton. O personagem, inserido no último ano, não apenas ganha destaque como o protagonismo da vilania da série, escanteando o tenebroso Gustavo Fring. O vilão de Breaking Bad, aliás, está ainda mais sombrio nessa temporada, deixando de lado um certo carisma e simpatia que uma hora ou outra surgia na série original.

Primor em todos os sentidos

O desenvolvimento dos personagens, certamente, merece muitos créditos nessa temporada, mas este não é o único ponto de alta qualidade da série. Gilligan e Gould criaram uma história tensa do início ao fim e criam uma expectativa altíssima para o sexto e último ano de Better Call Saul.

Nos aspectos técnicos, enquadramentos, fotografia, direção… é possível facilmente dizer que o spin-off ultrapassa a original. O roteiro, sempre amarrado, se aprofunda nas particularidades de cada personagem, desde o tormento de Mike com seus atos na quarta temporada, passando pelas motivações de um novo comportamento de Kim, até ao “bom-samaritanismo” de Lalo. Sem, claro, esquecer de Nacho, Gus e do próprio Saul.

O protagonista é desenvolvido para cada vez mais chegarmos ao personagem que conhecemos em Breaking Bad (sempre com uma atuação segura e confortável de Odenkirk). E ele ainda tem muita coisa a resolver até lá. A própria temporada também: o que acontece aos personagens inexistentes no original e o que está por vir ao próprio Saul, então conhecido como Gene Takovic.

A sombra de Breaking Bad foi deixada de lado

Better Call Saul é dita por muitos como uma das melhores séries dessa década e certamente não fica a dever em nada a Breaking Bad. Essa relação, que é inevitável, ajuda a enaltecer a original, realimentando esse universo criado por Gilligan e expandido com outra obra recente, El Camino (2019).

Por outro lado, o spin-off ainda sofre com a negação de fãs mais xiitas da original. Não é de se espantar, até porque, a régua de qualidade estabelecida por Breaking Bad é alta e exigente. Mas, se medida nos mesmos parâmetros que indicam que a série de Walter White está em outro patamar, Better Call Saul chega nesse mesmo nível. E essa quinta temporada prova isso.

Agora, é esperar por 2021 para o desfecho da série. Isso, se não tivermos, mais uma vez, uma prorrogação, como aconteceu com a quinta temporada – e, dessa vez, a pandemia do coronavírus pode contribuir para isso.

A derivada está à altura da original

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • Marcelo, a série começou muito devagar nos primeiros episódios mas foi se firmando e trazendo de volta aquela adrenalina de Breaking Bad. O único problema é que ficamos acostumados com um padrão muito difícil de se ver em outras.

  • Sim. As duas primeiras temporadas são mais "lentas". Mas não dá pra usar isso pra menosprezar a série como muita gente faz.
    Concordo plenamente com o "padrão" que vc diz, Belmiro. Ainda mais se relacionarmos a Breaking Bad. Obrigado pelo comentário!

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