por Marcelo Seabra
Uma ótima oportunidade para conhecer o trabalho de Jessie Buckley é assistir a As Loucuras de Rose (Wild Rose, 2018), disponível no Amazon Prime Video. A atriz despontou no Reino Unido em um reality show e se revelou uma cantora de mão cheia. Por isso, nada mais coerente que vê-la interpretando uma encrenqueira que sonha em ser uma estrela da country music. O inusitado é ela ser escocesa e ter o sonho de ir a Nashville, mesmo sem nunca ter pisado nos Estados Unidos.
A famosa cidade do Tennessee, capital mundial do gênero musical, é o objetivo de Rose-Lynn, mas o máximo que ela consegue é ir em cana. Quando a conhecemos, ela está saindo da cadeia e voltando para a casa da mãe (Julie Walters, de Brooklin, 2015), onde vai encontrar os filhos pequenos dos quais ficou um ano afastada. Como se tivesse passado apenas um dia desde sua prisão, Rose tenta retomar sua rotina, reencontrando o namorado e buscando de volta seu emprego como cantora em um bar. Mas tudo fica mais difícil com uma tornozeleira eletrônica e um passado.
Passando rapidamente por essa complicada questão da reinserção social, o roteiro de Nicole Taylor (vinda de várias séries) foca nas bobagens que a impulsiva e sem noção Rose faz, mas enfatiza a energia da personagem, que não desiste facilmente do que busca. Ela é um pouco como uma criança, obstinada e sem medo, sempre em frente rumo ao seu sonho. A mãe é uma espécie de superego, que tenta freiá-la. Na maioria das vezes, sem sucesso.
Se o roteiro apresenta muito bem as personagens, peca no segundo ato. As situações parecem pré-fabricadas apenas para nos conduzirem ao terceiro ato. Problemas forçados, reações exageradas e consequências pouco críveis testam um pouco a paciência do espectador. Mas logo as coisas voltam ao normal para a conclusão, que retoma a essência da personagem principal e capta novamente a nossa atenção. E, nessas idas e vindas, quem segura a onda é Buckley, totalmente em sintonia com sua Rose, com suporte da ótima Walters. Tendo chamado a atenção em séries como Fargo e Chernobyl, Buckley mostra ter cacife para levar um longa nas costas.
Com direção do não muito experiente Tom Harper (de A Mulher de Preto 2, 2014), As Loucuras de Rose tem uma fotografia competente, mostrando a Glasgow que sufoca a protagonista por não ser muito receptiva ao estilo country, e uma edição competente e enxuta, que se resume ao necessário. A trilha ajuda a cativar o espectador, que acaba comprando a briga de Rosie e desejando a ela o melhor. Mesmo que, vez ou outra, dê vontade de lhe dar umas palmadas e umas lições.
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Amei