Netflix acerta com Sex Education

por Marcelo Seabra

Com duas temporadas completas e uma terceira já em produção, Sex Education é uma ótima opção para quem procura entretenimento leve e, ao mesmo tempo, inteligente. O maior acerto da série é mostrar adolescentes como seres humanos reais, fugindo de estereótipos e encarando o óbvio: eles se interessam por sexo, com dúvidas, anseios e inseguranças. Fingir que a questão não existe pode sair muito caro para os adultos envolvidos.

Muito bem interpretado por Asa Butterfield (inesquecível em A Invenção de Hugo Cabret, 2011), que vai do seguro ao perdido em segundos, Otis Milburn tem 16 anos, vive numa cidadezinha inglesa onde todos se conhecem e a bicicleta é um meio de transporte muito comum e tem uma mãe especialista em sexo. Por conviver com a Dra. Jean Milburn (Gillian Anderson, a eterna Agente Scully de Arquivo X), ele acaba sendo bom em resolver os problemas sexuais dos colegas.

Agenciado pela inteligente Maeve (Emma Mackey – acima) e apoiado pelo inseparável Eric (Ncuti Gatwa), Otis começa a cobrar pelas consultas e, assim, conhecemos melhor os frequentadores da escola Moordale. E o que ninguém sabe é que o próprio Otis tem seus traumas. Tratar os outros é fácil, ele constata, enquanto luta com seus problemas. Paralelamente, temos tramas bem trabalhadas envolvendo vários outros alunos, como os recorrentes Adam Groff (Connor Swindells), Jackson Marchetti (Kedar Williams-Stirling) e Aime Gibbs, vivida pela ótima Aimee Lou Wood, que mistura uma cara de boba fantástica com uma sensibilidade enorme e tem um arco muito interessante na segunda temporada.

O elenco jovem de apoio é praticamente estreante, com poucos e desconhecidos trabalhos anteriores, e todos mostram grande competência. E os mais velhos também são marcantes, capitaneados pela veterana Anderson (ao lado). Variando dos menos famosos (como Mikael Persbrandt, de Rei Arthur, 2017) aos mais conhecidos (como James Purefoy, de The Following), eles se mesclam bem uns aos outros, dando grande naturalidade à série que, hoje, é a mais vista na Netflix. Com apenas oito episódios por temporada, é rápido e prazeroso acompanhar os dramas desse pessoal.

É de se espantar que a criadora de Sex Education, Laurie Nunn, tenha pouca experiência na TV ou Cinema. Com uma peça elogiada e alguns roteiros de curtas, ela partiu logo para um sucesso estrondoso no serviço de streaming, fazendo seu nome no showbiz. A tática de colocar um nome grande à frente do elenco, o experiente Butterfield, cercado de novatos, podia dar muito errado se eles não fossem escolhidos a dedo. Mackey e Gatwa, por exemplo, frequentemente roubam a cena, fazendo com que o público se importe genuinamente com seus personagens. E aguarde ansiosamente pela próxima temporada.

Os coadjuvantes também têm histórias interessantes

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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