por Marcelo Seabra
É triste constatar que determinadas pessoas parecem ter menos valor aos olhos da sociedade. A mesma prostituta que o cidadão de bem chama à noite, ele condena de dia. E, se ela misteriosamente sumir, não fará falta. Esse é o resumo do que trata Lost Girls – Os Crimes de Long Island (2020), versão ficcionalizada de um fato que começou a ser noticiado em dezembro de 2010, quando uma garota desapareceu e a mãe notificou a polícia.
Quando Shannan marca de jantar com a família e não dá notícias, a mãe não se preocupa, num primeiro momento. Mari Gilbert (Amy Ryan, de Querido Menino, 2018) estava acostumada com a filha ser um pouco distante, até relapsa. Elas moravam em cidades diferentes e encontros não eram muito frequentes. Mas a situação perdurou e Mari, com as outras duas filhas, buscou a polícia. Ao investigarem a história, eles acharam quatro cadáveres na costa de Long Island.
Desde o primeiro chamado, os policiais se mostram desinteressados, e o comissário e sua cara de cansado representam isso muito bem. Interpretado com a competência habitual por Gabriel Byrne (de Hereditário, 2018), o chefe da equipe parece bem intencionado, mas sem um pingo de vontade ou pró-atividade. Ele só se preocupa com sua vindoura aposentadoria, e um caso barulhento e mal resolvido só traria uma projeção indesejada.
Vários crimes notórios já chegaram aos cinemas – a própria Amy Ryan esteve em Sem Evidências (Devil’s Knot, 2013), no qual três adolescentes são logo apontados como culpados apenas para aplacar a opinião pública. Lost Girls faz parte do filão que mostra a polícia como incompetente ou, no mínimo, preguiçosa. É revoltante ver a pouca atenção que é dada para o caso e as possibilidades de esclarecimento que são descartadas sem o menor pudor. E policiais fazendo pouco das vítimas, “apenas umas prostitutas”. Enquanto isso, um possível serial killer está à solta.
Baseado no livro de Robert Kolker, o roteiro é assinado por Michael Werwie, que escreveu também Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile, 2019), sobre outro psicopata famoso. O argumento foi trabalhado com muita sensibilidade por Liz Garbus, diretora e produtora com larga experiência em documentários (como What Happened, Miss Simone?, 2015, também bancado pela Netflix). O foco se mantém na família da desaparecida, fazendo o espectador participar um pouco da dor e da dúvida quanto ao destino de um ente querido.
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