por Marcelo Seabra
Quem achava que o ápice da cópia descarada no universo dos quadrinhos era Rob Liefeld e sua Image Comics precisa conhecer a Valiant. Criada por um grupo de executivos e investidores que não conseguiram comprar a Marvel em 1988, a editora tem em suas linhas personagens que reúnem elementos de vários outros e, agora, busca ganhar os cinemas assim como sua colega fez usando os Vingadores e companhia. Assim nasceu Bloodshot (2020), primeiro de uma pretensa série de longas produzidos pela Sony Pictures em associação com a Valiant.
A ideia que tomaria forma para virar Bloodshot foi lançada em 1992 em Eternal Warrior número 4 e não demorou a ganhar uma revista própria. O protagonista é um soldado que tem o corpo modificado por nanotecnologia e, por isso, consegue regenerá-lo e modificá-lo. Sua memória é apagada e ele é usado como arma para objetivos bélicos. Isso, até que ele tome conhecimento da situação e vá à forra.
Para levar essa trama à tela grande, foram convocados Jeff Wadlow (de Verdade ou Desafio, 2018) e Eric Heisserer (cujo currículo inclui de A Chegada, 2016, a Birdbox, 2018). Os roteiristas tiveram a missão de simplificar a história para fazê-la caber em menos de duas horas. Compreensivamente, mudaram elementos. Tudo já provavelmente pensando no quadro completo, com as demais atrações da editora devidamente amarradas em uma futura produção. O especialista em efeitos especiais e em videogames Dave Wilson comanda, fazendo sua estreia na direção e garantindo um visual de fato interessante.
Para o papel principal e para possivelmente segurar nas costas uma franquia, o contratado foi Vin Diesel, que participou do Universo Cinematográfico Marvel emprestando sua voz a Groot (de Os Guardiões da Galáxia). Outras franquias pelas quais o ator é reconhecido são Velozes e Furiosos, Triplo X e Riddick, e todas, em algum momento, são percebidas aqui. Apesar de muito carismático, Diesel não é de muitos recursos, voltando sempre nas mesmas expressões e maneirismos. Ou seja: missão cumprida em terreno seguro. Lamorne Morris tem mais destaque do que o usual (como em A Noite do Jogo, 2018) e traz uma bem-vinda leveza e a bela e letal Eiza González (de Alita, 2019) completa o grupo principal, que ainda conta com Sam Heughan (de Outlander) como um capanga bobo.
Mas não é só nos trabalhos prévios do astro que Bloodshot “bebe”. O Exterminador do Futuro tem uma referência clara, o Dr. Octopus tem sua invenção roubada e a apropriação de Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, 2013) é tão óbvia que até o ator é repetido – Guy Pearce faz o necessário com o pé nas costas, o que inclusive fez também nos dois Aliens mais recentes. Se o espectador não estiver gostando do resultado, pode ao menos se ocupar buscando as “homenagens”. E é bom esclarecer que isso acontece no filme certamente porque já era prática comum na revista. Wolverine, com seu fator de cura, falta de memória e enorme raiva, é uma constante.
Mesmo com esse sentimento permanente de já ter visto tudo em outro lugar, Bloodshot ainda consegue guardar umas cartas na manga para surpreender o espectador. Certos caminhos seguidos pelo roteiro conseguem animar, e há criatividade nos talentos dos personagens e em como eles são usados. Resta observar como será seu desempenho nas bilheterias para saber se o Universo Cinematográfico Valiant irá adiante. Se for, as chances são de que Vin Diesel encontre uma cópia dos X-Men (Harbinger) ou de Pantera Negra/ Fantasma (Rai).
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