por Marcelo Seabra
Depois do sucesso atingido com A Bruxa (The Witch, 2015), qualquer passo de Robert Eggers seria ansiosamente esperado. E o novo trabalho do diretor e roteirista não decepciona: O Farol (The Lighthouse, 2019) causa tanto estranhamento quanto o longa anterior, talvez até mais. Permeado por influências claras de grandes autores e de mitos gregos, ele ainda conta com duas ótimas atuações para assombrar seu público.
Escrito em parceria com o irmão, Max, Robert nos apresenta a dois zeladores que chegam a uma ilha na Nova Inglaterra para cuidarem de um farol no meio do nada. Eles só têm um ao outro até o dia marcado para a volta do barco que os levará embora. O isolamento, ainda mais em meio a tempestades homéricas, lembra O Iluminado (The Shining, 1980), mas Stephen King não é uma influência aqui. A ideia parte de um conto inacabado de Edgar Allan Poe, mas os Eggers acabaram se afastando do escritor para se aproximarem de H.P. Lovecraft.
Pesadelo é uma boa palavra para descrever O Farol. A belíssima fotografia em preto e branco de Jarin Blaschke (de Shimmer Lake, 2017, e também de A Bruxa) acentua as sombras e aumenta o clima de tensão que surge da relação entre os dois sujeitos. Temos um zelador mais velho e experiente, que atua como chefe; e outro mais novo, que optou pela vaga para mudar de ares e acaba se ocupando das tarefas domésticas, longe do farol propriamente dito. Rapidamente, entrar lá se torna uma obsessão para ele e mais um motivo de atrito entre os dois. E a crescente tensão é inclusive sexual, mas não no sentido erótico: é mais uma disputa de quem manda naquele enorme símbolo fálico, numa metáfora para uma masculinidade frágil.
Ator que dispensa apresentações, Willem Dafoe (de Aquaman, 2018) é uma atração à parte. Seu personagem se alterna entre o profissional exemplar e o alcoólatra irritante, arrumando confusão por qualquer coisa. E sobra para Robert Pattinson (de Bom Comportamento, 2017) aguentá-lo. Ambos se mostraram bem ágeis nos diálogos, usando termos apropriados para a época e para o mar, onde o veterano tem experiência. E o público não demora a se perder, não sabendo o que é realidade e o que pode estar apenas dentro da cabeça deles, o que leva a uma conclusão nada conclusiva.
Como fez em A Bruxa, Eggers parece entregar uma obra fechada, mas te permite interpretar na direção que achar melhor. Vários elementos são usados na costura, dos autores citados ao mito de Prometeu, mais óbvio. Quem gosta de tudo mastigado pode ficar frustrado. Mas, independentemente de qualquer problema encontrado, Dafoe e Pattison sem dúvida valem o ingresso, e têm suas atuações reforçadas pelas belas cenas criadas por Blaschke, merecidamente indicado ao Oscar e a tantos outros prêmios.
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