por Marcelo Seabra
Sororidade é um termo que vem do latim e define a importância de mulheres se unirem para serem ouvidas. Vivemos em um mundo machista e, muitas vezes, os piores espécimes masculinos estão em posição de liderança. Por isso, para terem os mesmos direitos e oportunidades, as mulheres deveriam se unir. Este é um dos pontos centrais tratados em O Escândalo (Bombshell, 2019), longa já em cartaz em reconta os fatos ligados ao processo entre funcionárias e o todo-poderoso executivo do canal Fox News.
Roger Ailes foi incumbido pelo dono do império Fox, Rupert Murdoch, de tocar o canal de notícias e, numa análise fria e objetiva, foi muito bem-sucedido. Aumentou em várias vezes a audiência, a fama e o valor de mercado do canal. Mas a que preço? De que forma? É isso que o diretor Jay Roach e o roteirista Charles Randolph escancaram. Ambos tinham experiência em filmes sobre a realidade escandalosa em que vivemos. Roach assinou, entre outros, Recontagem (2008), Virada no Jogo (2012), Os Candidatos (2012) e Trumbo (2015), e Randolph levou o Oscar por escrever A Grande Aposta (2015).
Contando com um elenco dos sonhos, Roach refaz a equipe do Fox News de 2016 e nos leva para dentro das articulações do Partido Republicano antes da eleição que iria colocar Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. Charlize Theron (de Atômica, 2017) vive a âncora do canal destacada para mediar o evento, Megyn Kelly. A história de Kelly é uma das três seguidas pelo filme, que também nos apresenta a Gretchen Carlson (Nicole Kidman, de O Pintassilgo, 2019) e Kayla Pospisil (Margot Robbie, de Era Uma Vez em… Hollywood, 2019). O que elas têm em comum, além de trabalharem na mesma empresa? O assédio de Ailes (John Lithgow, de Cemitério Maldito, 2019).
As três atrizes realizam performances impecáveis, complementadas pelo sempre ótimo Lithgow (abaixo). Entre elas não há muitas cenas, mas todas têm embates com ele, o chefão que busca mulheres lindas, com belas e compridas pernas, para colocar no ar. Ailes acreditava que isso chamaria público – mesmo com os homens que assistem ao canal se declarando conservadores, de família, os tais cidadãos de bem. E ele não estava de todo errado, já que a audiência do Fox News cresceu muito sob a gestão dele. A hipocrisia pode ser encontrada no mundo todo.
Com uma montagem ágil, o longa alterna sua atenção entre elas. O roteiro não se importa tanto com as personagens, mas com os fatos ligados à questão do assédio. Nesse ponto, é importante ressaltar a batalha entre Kelly e o contumaz misógino Trump, que direcionou sua base de fãs para infernizar a jornalista. Mais ou menos o que acontece com a família presidencial brasileira e seus desafetos. Além do elenco principal, temos um desfile de gente competente em papéis secundários, como Allison Janney, Kate McKinnon, Connie Britton, Stephen Root, Mark Duplass, Malcolm McDowell e Brigette Lundy-Paine, estrela da série Atypical.
Ailes e Trump são os grandes vilões dentre gente da pior espécie, como são os empregados do Fox News. É triste observar que não havia qualquer tipo de união entre as lindas colegas de trabalho, cada uma muito preocupada com sua própria carreira. Era um olho em si e o outro na concorrência – como no momento em que Carlson vai à sala de Ailes e fica com uma pulga atrás da orelha sobre a presença de Pospisil. Mesmo passando por situações humilhantes, elas só se preocupavam em crescer, defendendo enquanto isso todo tipo de ponto de vista ultrapassado, antiquado, que reforça exatamente o machismo do qual eram vítimas.
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