por Marcelo Seabra
Já contando com várias adaptações para o Cinema e para a televisão, o livro clássico de Louisa May Alcott ganha nova versão para a telona. Escrito e dirigido por Greta Gerwig, Adoráveis Mulheres (Little Women, 2019) apresenta a uma nova geração as irmãs March, cada uma com uma personalidade bem distinta. Diferentemente de outros remakes, que chegam sem a menor explicação ou necessidade, esse é um filme que reafirma a força da mulher e o direito delas de escolherem seus destinos.
Em meados do século XIX, quatro irmãs crescem com a mãe, à espera do pai voluntário, e passam por diversas experiências envolvendo a vida doméstica, o trabalho e o amor. Com maior ou menor grau de semelhança entre elas, física e psicológica, as meninas buscam seus caminhos, mesmo que não saibam direito para onde querem ir ou o que fazer. Algumas alterações no original foram feitas para ressaltar o papel da mulher na época e a dificuldade de lutar por seus direitos. Mas o principal está lá: o retrato de vidas até então consideradas pouco importantes, que não costumavam aparecer em publicações.
Tendo celebrado recentemente o sucesso de Lady Bird (2017), Gerwig estava em alta e acabou assumindo também a direção do projeto, além do roteiro. Pensando num primeiro momento em viver a filha principal, Gerwig acabou cedendo aos pedidos da amiga Saoirse Ronan, com quem havia trabalhado em sua estreia na direção, em 2017. Dessa forma, Ronan ficou com o papel de Jo, a mais impetuosa das meninas March, a que sonha em ser independente e se manter escrevendo contos e livros. Katharine Hepburn e Winona Ryder são algumas das atrizes que já encararam essa missão, mas Ronan não fica atrás em talento e força. Indicada ao Oscar três vezes, a jovem tem muita presença de cena.
Como as outras filhas, temos Emma Watson (da franquia Harry Potter e de O Círculo, 2017) como Meg; Florence Pugh (de Midsommar, 2019) como Amy; e Eliza Scanlen (da série Sharp Objects) como Beth, a mais nova e frágil. Amy acaba sendo a que se destaca entre elas, numa ótima composição de Pugh. Ela é a mais tridimensional delas, mostrando várias facetas de um ser humano normal, com momentos de raiva e outros de frustração. A mãe fica por conta de Laura Dern, indicada a prêmios nessa temporada pelo filme do marido de Gerwig, Noah Baumbach: História de Um Casamento (Marriage Story, 2019). Apesar de ter pouco espaço, Dern é sempre ótima. Outro que faz muito com pouco é Chris Cooper (de Sem Proteção, 2012), que rouba cenas como o vizinho rico.
Completando o elenco, temos Timothée Chalamet (também de Lady Bird) como o garoto da casa em frente, que se envolve profundamente com as meninas. Chalamet resolve bem o problema, mesmo que seus personagens não variem muito. Ainda aparecem Bob Odenkirk, Tracy Letts e Louis Garrel, além da irrepreensível Meryl Streep, que consegue passar simpatia para uma tia solteirona cínica e rabugenta. Dá para ver que Gerwig não é boba ao pensar em seus atores, o que deve deixar o trabalho de direção mais focado em outros pontos.
E essa técnica funcionou bem, tudo está bem amarrado. A ótima reconstituição de época é reforçada por uma fotografia linda, responsável por vários momentos marcantes que poderiam ser enquadrados e colocados na parede. E o premiado Alexandre Desplat (de A Forma da Água, 2017) pontua tudo com uma trilha agradável, que vez ou outra aparece com mais destaque, mas tende a se manter discreta. Gerwig acertou mais uma vez – até mais do que no trabalho anterior. E ainda emendou uma dose de metalinguagem, mostrando na prática o que Alcott criticou há dois séculos e permanece atual.
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Amei este filme, Marcelo, pura emoção! Algumas vezes me atrapalhei com os flash backs. Lá pelo meio do filme, achei que as cenas do passado tinham a fotografia mais dourada e as do presente tendiam para o azul. Me ajudou a acompanhar melhor a história.
De fato, Stella, às vezes fica um pouco confuso saber a época certa. Mas que bom que você gostou do resultado!