Mirren e McKellen dão vida à Grande Mentira

por Marcelo Seabra

Ter o encontro de atores do calibre de Helen Mirren e Ian McKellen já deveria valer o preço do ingresso. E vale! Os dois entram em cartaz em A Grande Mentira (The Good Liar, 2019) e o trabalho que vemos é exatamente o esperado: eles são ótimos! Já o filme, nem tanto. Com ações não condizentes com os personagens e os rumos exagerados que a história toma, o resultado perde muita força. Temos mais um caso de livro muito vendido e elogiado que não deu origem a um longa à altura (como O Pintassilgo, 2019).

Depois dos 60, aposentado, o funcionário público Nicholas Searle fez um curso online e realizou seu sonho de virar escritor. O livro vendeu bastante pelo mundo e os direitos foram adquiridos pela Warner. Searle viu sua história ganhar vida com dois ícones do Cinema e o experiente Bill Condon à frente do projeto. Condon, McKellen e o roteirista Jeffrey Hatcher trabalharam juntos em Mr. Holmes (2015), repetindo agora a bem-sucedida parceria – com a grande adição de Mirren.

Em A Grande Mentira, McKellen vive um golpista experiente que vê na viúva interpretada por Mirren uma oportunidade de se aposentar em grande estilo. Arrancando dela tudo o que fosse possível, ele teria tranquilidade em seus últimos dias. Mas, de cara, sabemos que Betty não será uma presa fácil, Roy terá muito trabalho. Para complicar a missão, ainda aparece no caminho um neto de Betty, Stephen (Russell Tovey, de séries como Flash e Years and Years).

Com dois personagens fortes e inteligentes, fica difícil comprar a ideia de que a relação entre eles se desenvolveria da forma como acontece. Com intérpretes desse naipe, a expectativa é maior ainda. Talvez o filme tenha sido mais afobado que o livro, o que tira sua força. Ao chegarmos no final, o sentimento ruim já tomou conta. É uma produção bem cuidada, com uma fotografia correta, um figurino clássico, trilha adequada e locações simples, mas funcionais. Só o que desanima são as atitudes de Roy e Betty, e a sensação que fica é a de desperdício de talentos enormes.

É a primeira colaboração dos velhos amigos no Cinema

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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