por Kael Ladislau
Desde que o AMC exibiu o último episódio de Breaking Bad, fechando a saga de Walter White, passaram-se seis anos. Ainda que a série seja fechada magistralmente, algumas respostas ficaram em aberto. De lá para cá, muitas teorias (algumas estapafúrdias) surgiram. Mas o que ninguém cravou era o fim de Jesse Pinkman, parceiro do professor na produção de metafetamina. E El Camino: A Breaking Bad Film (2019), lançado recentemente pela Netflix, traz de volta o personagem para responder a essas perguntas.
Considerada uma das melhores séries da TV americana, Breaking Bad ainda desperta paixões em fãs. Tanto, que consegue manter uma série derivada – a excelente Better Call Saul. Mesmo que o prequel, que conta a história do advogado charlatão Saul Goodman, traga de volta toda a atmosfera de Breaking Bad, os fãs estavam ávidos para um longa que pudesse falar de Jesse Pinkman, um dos mais queridos da série. El Camino faz isso. Ele apenas não resgata o personagem, contando o fim que ele teve após o confronto de Walter White (Bryan Cranston) com o bando de tio Jack, como traz de volta o ritmo calmo, com cenas de impacto, boas atuações e, claro, alguns rostos conhecidos.
Do elenco, reencarnam algumas figuras carimbadas da série: além de Aaron Paul, como o agora protagonista Jesse Pinkman, vemos ainda Todd (Jesse Plemons, de Vice, 2018), Mike (Jonathan Banks, também de Better Call Saul) e os amigos inseparáveis Badger (Matt Jones, de Brightburn, 2019) e Skinny Pete (Charles Baker, de The Black List). E sim, tem mais gente da série. Todos funcionam muito bem, mesmo depois de tanto tempo do final de Breaking Bad.
É possível perceber ainda algumas características que podem ser chamadas de marcas do criador da série e diretor do filme, Vince Gilligan: os times lapses e as câmeras colocadas em lugares inusitados, dando alguns quadros incríveis. A ambientação do Novo México também está lá: o deserto vasto e vazio e o céu azul rabiscado de aviões em Albuquerque são elementos que não poderiam faltar.
A história em si é simples e não é pecado nenhum dizer que ela é uma extensão da série. Jesse Pinkman sofre o impacto de ter fugido do cativeiro dos nazistas e tenta reconstruir seu destino, depois da fama alcançada ao lado de White. Isso se dá com perseguição da polícia, confronto familiar e muitas lembranças do cativeiro e do tempo que passou ao lado do famoso Heisenberg.
O que Gilligan entrega, portanto, não deve desagradar os fãs, ou mesmo aqueles que apenas assistiram à série. É funcional, a ponto de contar uma história que parte de outra sem estragar a primeira. A maneira como o diretor faz isso é eficiente, com montagens incríveis, como mostrar o para-brisa de um carro em fuga e uma tela de videogame de maneira leve e quase que imperceptível.
El Camino não é nenhum Ozymandias, ou mesmo Felina, os melhores episódios da série, mas não é tampouco o episódio da mosca (Fly, o pior, para o público). É simples, eficiente e não estraga a obra principal. Quem acompanha Vince Gilligan e as competências do elenco talvez sequer teve esse medo. Para os fãs, é um presente verdadeiramente generoso.
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