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Midsommar é terror para os mais fortes

por Marcelo Seabra

Após o sucesso de Hereditário (Hereditary, 2018), o diretor e roteirista Ari Aster passou a ser um nome a se acompanhar. Seu novo trabalho, Midsommar (2019), chega aos cinemas essa semana com a mesma promessa: bagunçar a cabeça do espectador com uma trama de terror que explora bem o clima de tensão, evitando sustos fáceis. Mas os dois filmes seguem caminhos totalmente diferentes, e o mesmo pode-se dizer do resultado atingido.

Fugindo dos cenários fechados e noturnos, como é costume em filmes do gênero, Aster nos proporciona uma obra clara, ensolarada, em campos abertos, o que gerou o subtítulo nacional O Mal Não Espera a Noite. O Sol mal se põe na região da Suécia onde a trama se passa. Um grupo de quatro amigos, três deles americanos, combina passar uns dias lá, na terra natal do quarto, para participarem de um festival local tradicional. Um deles acaba levando a namorada, que passou por traumas e está muito abalada.

 O relacionamento do casal obviamente já passou da data de validade, os dois parecem continuar juntos por inércia. Mas a viagem pode ser uma oportunidade para se divertirem. Os amigos não parecem muito felizes com a notícia, mas não há opção. A partir daí, Aster mostra seu domínio sobre a linguagem cinematográfica, fazendo metáforas visuais e brincando com as expectativas do público. Importante mencionar que até o trailer deve ser evitado, ou qualquer outro material que traga spoilers.

Assim como fez em Hereditário, Aster leva sua premissa o mais longe possível, e dificilmente o público vai ficar impassível. Os mais sensíveis terão uma experiência complicada, quase traumática. E esses caminhos podem não agradar a todos. E não por causa de violência ou hipocrisia puritana, mas por ver inconsistências naquelas situações. Cabe aqui uma observação em comum com o filme A Cura (A Cure for Wellness, 2016): você pode não gostar dos rumos, mas nunca se pode dizer que faltou coragem ao realizador. Talvez, tenha faltado amarrar melhor.

Como não poderia ser diferente, a maior parte do elenco é sueca, com destaque para Vilhelm Blomgren, que vive o amigo que convida os demais. Na ala americana, temos rostos mais conhecidos, como William Jackson Harper (da série The Good Place), Will Poulter (de Maze Runner) e Jack Reynor (de Detroit em Rebelião, 2017). A atração principal é Florence Pugh (de Lady Macbeth, 2016), uma grande atriz que acompanha muito bem as ações nem sempre coerentes de sua personagem.

Mais do que assustar, Midsommar deixa seu espectador incomodado. O clima de desconfiança naquele cenário idílico lembra o já clássico O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973). O diretor de fotografia Pawel Pogorzelski (também de Hereditário) faz um ótimo uso das paisagens de Budapeste, que se passam pela vila sueca Hälsingland. A montagem, assinada por Lucian Johnston (adivinhe de qual filme), faz com que quase duas horas e meia passem relativamente rápido, num ritmo ágil na maior parte da sessão. O embrulho no estômago é que vai demorar a passar.

Florence Pugh é o destaque do elenco

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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