Cinebio de Divaldo vai além do espiritismo

por Daniela Costa

Chegando aos cinemas essa semana, Divaldo – O Mensageiro da Paz (2019) traz à tona questões polêmicas e curiosas sobre a tão falada doutrina espírita. Contudo, apesar do cunho religioso, é uma obra que diz mais sobre a caridade do que de dogmas. A história de vida de um dos mais conceituados médiuns brasileiros, discípulo do lendário Chico Xavier, é contada pelo diretor e roteirista Clóvis Mello sem a pretensão de ser um documentário ou biografia. E muito menos de santificar a figura do professor baiano.

O longa-metragem mostra de forma leve, até cômica, os percalços enfrentados por um garoto que, desde a infância, é atormentado por visões de pessoas mortas. Fenômeno que ninguém conseguia explicar, especialmente por ele pertencer a uma tradicional família católica. Ironicamente, o espírito obsessor que o persegue até a sua fase adulta e quase o leva ao suicídio é de um padre, interpretado por Marcos Veras (de Tudo Acaba em Festa, 2018). Em contrapartida, Joanna de Ângelis (Regiane Alves, de O Menino no Espelho, 2014), sua guia espiritual, é uma freira.

Algumas cenas mostram o quanto a mediunidade pregava peças em Divaldo e até mesmo o colocava em apuros. Um exemplo é quando a avó materna, já desencarnada, chama do lado de fora da casa e exige que o menino avise a sua mãe, Dona Ana, brilhantemente interpretada pela atriz Laila Garin (de 3%), que ela estava ali para lhe falar. Outra cena o traz em conversa animada com o amigo índio que ninguém conseguia ver.

O elenco conta com belas atuações, com destaque para os três Divaldos: o ator mirim João Bravo, que faz a primeira fase do personagem, com toda a sua inocência e espanto diante dos fatos inexplicáveis; o jovem Ghilherme Lobo (de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, 2014), que o representa em sua juventude, quando inaugura a Mansão do Caminho e arranca boas risadas dos telespectadores; e, por fim, o experiente Bruno Garcia (de O Amor Dá Trabalho, 2019 – abaixo), que mostra a fase adulta do médium, período em que lança o seu primeiro livro psicografado.

O cenário do filme é bem realista, gravado em cidades como Itu, Salto, Santana de Parnaíba, Pirapora do Bom Jesus, Rio de Janeiro e Salvador. Figurino e maquiagem impecáveis mostram o apuro técnico dispensado à obra. Com produção de Raul Doria e Sidney Girão e apoio da Federação Espírita Brasileira, conta com coprodução dos estúdios FOX, as produtoras CINE e Estação Luz Filmes.  O roteiro, que tem como base o livro Divaldo Franco: A trajetória de um dos maiores médiuns de todos os tempos, da autora Ana Landi, também usa fatos e informações de relatos do médium e de obras espíritas de Joanna de Ângelis.

Indo além das questões religiosas, a trama é um exemplo de como a fé transforma e salva vidas. Em 72 anos dedicados ao próximo, e contando, Divaldo Franco já acolheu e abrigou mais de 40 mil crianças e adolescentes. Ao todo, o médium publicou cerca de 285 livros, com mais de 13 milhões de exemplares traduzidos para 19 idiomas. Todo esse trabalho é mostrado claramente, resultando num filme bem amarrado que faz justiça a uma pessoa que, entre erros e acertos, tem um saldo muito positivo.

Lobo posa com o verdadeiro Divaldo Franco

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • Espiritismo não tem dogmas. É uma doutrina que se fundamenta sob três pilares: ciência, filosofia e religioso. Mas sem dogmas confirme sob o ponto de vista das religiões tradicionais.

  • Que bom que apesar da visível incredulidade do crítico, fez uma análise justa do filme...está de parabéns, vc ensina a outros críticos o que é isenção...

  • Parabéns a todos envolvidos na produção do filme. Comovente essa homenagem a Divaldo Franco. É um filme de valores espiritas, mas sobretudo valores cristãos.

  • Em Montes Claros MG estamos surpresos com a reação dos donos de 2 cinemas que parecem não ter interesse de brindar grande número de ESPÍRITAS projetando este tão esperado filme. Lastimável.

  • Lamentável o fato de nos cinemas de Montes Claros seus proprietários não se interessarem em nos brindar com este filme tão importante para nós ESPÍRITAS e não espíritas

  • Sou de Montes Claros, cheguei a BH hoje e não perdi a oportunidade de assistir. Amei... Pena que em Montes Claros os cinemas não valorizaram. Ótima oportunidade perdida pelos Espíritas e simpatizantes do espiritismo.

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