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Hobbs e Shaw ganham um filme só para eles

por Marcelo Seabra

“Ninguém manda em mim”. Esse é o lema repetido à exaustão em Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw (Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw, 2019), longa estrelado por dois sujeitos musculosos, bons de briga e extremamente infantilizados. As implicâncias entre eles começam engraçadinhas, cansam e passam a irritar em questão de minutos. Esse humor rasteiro e insistente é perpassado por lutas, tiros, explosões e perseguições em todos os tipos de veículos. E o resultado parece dizer: não precisamos de Vin Diesel.

A franquia, iniciada 2001 com Diesel e o falecido Paul Walker, já conta com oito filmes, o nono atualmente em produção, e agora tem um derivado. Desavenças entre os atores levaram os produtores a pensarem numa forma de separar Dwayne “The Rock” Johnson e Diesel, e a solução foi aproveitar a química entre Johnson e Jason Statham. Na nova história, os dois fortões estão em lados opostos da lei e acabam se unindo contra um vilão em comum. Para bater de frente com essa dupla de peso, era necessário alguém à altura, e o escolhido foi Idris Elba (o Heimdall da Marvel).

Para conseguir unir os dois e trazer o terceiro para a cena, a desculpa é personificada por Vanessa Kirby (Missão: Impossível – Efeito Fallout, 2018 – acima). Ela vive a irmã caçula de Deckard Shaw (Statham), uma agente da espionagem inglesa que, para proteger um supervírus das mãos de ladrões, injeta-o em si mesma. Com pouco tempo antes de ser infectada, ela precisa da ajuda de Shaw e Luke Hobbs (Johnson) para vencer o geneticamente modificado Brixton (Elba). Mesmo que os dois personagens do título tenham sido apresentados nos outros episódios de Velozes e Furiosos, aqui conhecemos melhor suas histórias.

Brixton é um assassino que abraçou a causa de uma empresa misteriosa que busca levar o ser humano ao futuro. Só que fará isso matando boa parte da população e mexendo no corpo dos demais, aumentando força e resistência. Questões ambientais, como a exaustão de recursos naturais, são mencionadas apenas para darem lugar à pancadaria. Como em uma aventura de James Bond, vários lugares são visitados, o que permite uma bela fotografia. Todos os personagens vivem com muito luxo – até a mãe presidiária de Shaw (a grande Helen Mirren). Toda essa beleza, de paisagens a cenários fechados e objetos de cena, dão uma sensação de zero risco. Em momento algum, sentimos medo ou apreensão pelo destino de alguém.

Quem acompanha a série já sabe bem o que esperar e é exatamente isso que David Leitch oferece. Responsável por Atômica (Atomic Blonde, 2017) e Deadpool 2 (2018), o diretor já mostrou saber conduzir sequências de ação. Mas, aqui, elas caem numa mesmice, dão até sono. A necessidade de ir além do que foi feito anteriormente cria momentos engraçados, de tão inverossímeis. O roteiro, escrito por Chris Morgan (dos últimos seis longas da franquia) e Drew Pearce (do quinto Missão Impossível, Nação Secreta), respeita a natureza dos personagens, mas fica rodando em torno do que é esperado. Tenta-se aprofundar no quesito família, o grande tema de Velozes e Furiosos, mas só consegue gerar mais piadinhas.

Idris Elba é o vilão da vez, praticamente um ciborgue

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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