Faltam adjetivos pra Homem-Aranha: Longe de Casa

por Rodrigo “Piolho” Monteiro

Fantástico. Espetacular. Sensacional. Todos esses adjetivos fizeram parte de alguma revista mensal do Homem-Aranha nos Estados Unidos. A mais longeva delas é The Amazing Spider-Man, publicada quase que ininterruptamente desde 1963. The Spectacular Spider-Man e The Sensational Spider-Man tiveram vidas mais curtas. Independente disso, o fato é que Homem-Aranha: Longe de Casa (Spider-Man: Far From Home, 2019) poderia ter qualquer um desses adjetivos no seu nome, pois o filme faz mais do que jus a qualquer um deles. Desde 2004, com Homem-Aranha 2, não se via um filme tão bom estrelado pelo Amigão da Vizinhança. Arrisco mesmo a dizer que este, se não supera, pelo menos se equivale à película estrelada por Tobey Maguire.

Peter Parker (Tom Holland), May Parker (Marisa Tomei), MJ (Zendaya), Ned Leeds (Jacob Batallon) e os demais colegas de escola estão de volta após os Vingadores terem desfeito tudo aquilo provocado por Thanos (Josh Brolin) em Vingadores: Ultimato. Alguns meses se passaram e Peter e seus colegas têm uma excursão escolar marcada para a Europa. Peter, claro, não poderia estar mais empolgado, já que essa é a oportunidade perfeita para se declarar para MJ e tirar umas férias das teias. É claro que a aparição de Mysterio (Jake Gyllenhaal, de Velvet Buzzsaw, 2019), um novo herói que precisa da ajuda do Homem-Aranha, fará com que a viagem de Peter seja tudo, menos divertida.

Um dos fatores que tornam Peter Parker um personagem com o qual quase todos nós – adultos, adolescentes e mesmo algumas crianças – empatizamos é como ele trata a questão da responsabilidade. Peter – como a maioria de nós – vive quase que eternamente o dilema entre o que ele quer e o que ele deve fazer. Em um mundo onde Thor, Capitão América e Homem de Ferro não estão mais presentes, essa questão da responsabilidade (“Com grandes poderes….”) se torna ainda maior, especialmente quando Peter Parker tem o legado de Tony Stark para seguir.  Este é o grande mote de Longe de Casa. Peter vai seguir o legado de Stark e se tornar o maior herói de um mundo que precisa desesperadamente dele ou vai simplesmente ignorar suas responsabilidades para ser um adolescente – relativamente, pelo menos – normal?

Esse é um tipo de conflito que afeta todos nós. Quem jamais quis ir se divertir ao invés de estudar para aquela prova, fazer hora extra para terminar algum trabalho ou ter que cuidar de um ente querido que necessita de apoio? Em Longe de Casa, os roteiristas Chris McKenna e Erik Sommers acertam o tom na hora de tratar da questão de uma maneira que fará com que pelo menos a maior parte da plateia se identifique com os dilemas enfrentados pelo Cabeça de Teia.

O longa, no entanto, não é um drama. Muito pelo contrário, é um tremendo filme de ação. Nos quadrinhos, os “poderes” de Mysterio são sua capacidade de criar efeitos especiais/visuais tão realistas que ninguém duvida de que o que está perante seus olhos é um dragão, um monstro ou uma torre desabando. Os hologramas de Mysterio são tão perfeitos que chegam até a enganar o famoso Sentido de Aranha do herói. Isso o torna uma bela escolha para ser transportada para o cinema e o diretor Jon Watts, com sua equipe de efeitos especiais/visuais, fizeram a melhor versão possível do personagem. Não só ele, mas há muito tempo os poderes do próprio Homem-Aranha, especialmente a sua agilidade aracnídea, não eram tão bem explorados em um filme. O moleque pula, gira, desvia, faz acrobacias quase impossíveis como há muito não se via.

Longe de Casa é o último filme da fase Infinity do MCU e faz com que ela seja fechada – com o perdão do clichê – com chave de ouro. Informações que há algum tempo circulam na internet dão conta de que a ideia de Kevin Feige (o chefão do Marvel Studios) é que a Capitã Marvel de Brie Larson seja o principal rosto da nova fase do MCU, substituindo os já consagrados. Se Feige está mesmo empenhado nisso, ele deve urgentemente contratar uma equipe criativa melhor para cuidar dos futuros filmes da heroína e sugerir que Larson faça algumas aulas sobre como criar empatia de seu personagem com o público.  Do contrário, assim como acontece no Universo Marvel dos quadrinhos desde os anos 1960, o principal personagem do MCU será, sem sombra de dúvidas, o Peter Parker/Homem-Aranha de Tom Holland.

Antes de encerrar, aquela dica de sempre: há duas cenas pós-créditos – na verdade, uma no meio deles – em Longe de Casa. Diferentemente do que aconteceu em Homem-Aranha: De Volta ao Lar, ambas têm bastante importância não só para o próximo filme do aracnídeo, como para o futuro do MCU como um todo.

Holland já é tido por muitos como o melhor Homem-Aranha do Cinema

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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