John Wick 3 não acrescenta nada

por Arthur Abu

Quem foi que pediu por uma sequência de John Wick? Ou melhor: duas? Eu pedi, e aparentemente muita gente também. O assassino também conhecido como Baba Yaga, que teve sua primeira aparição em 2014, retorna às telas em John Wick 3: Parabellum (2019).

Antes o caçador, John Wick (Keanu Reeves) se tornou a caça. Excommunicado por derramar sangue nas mediações do hotel Continental, quebrando a principal regra da alta cúpula, Wick agora tem pouco tempo, muitos inimigos e uma recompensa de 14 milhões por sua cabeça. A alta cúpula envia uma juíza (Asia Kate Dillon, de Billions) encarregada de investigar a situação de Wick e todos que o ajudaram, incluindo seu velho amigo Winstom (Ian McShane) e o “Rei dos Mendigos” (Laurence Fishburne). Dentre os incontáveis mercenários contratados para a caçada, Zero (Mark Dacascos, de Havaí 5.0) é o único que aparentemente tem habilidades equiparáveis às do perigoso fugitivo.

Queimando todas as fichas que tem, John vai colocar em perigo e cobrar favores de todos que um dia chamou de amigo, incluindo a chefe da máfia russa (Angelica Huston, de Ilha dos Cachorros, 2018) e a perigosa Sofia (Halle Berry, de Kingsman 2, 2017). A única vida que John não está disposto a arriscar é a de seu cachorro, de quem logo no início já garante a segurança – por um alto preço. Isso que é adoção responsável!

Dois dos criadores da franquia, o diretor e ex-dublê Chad Stahelski e o roteirista Derek Kolstad (que, nessa sequência, assina o roteiro com mais três colegas), mantêm a mesma linha que deu certo nos filmes anteriores. A história e os personagens continuam sem muita profundidade e quase nada é explicado. As coisas simplesmente acontecem, algumas com muita conveniência. A essa altura do campeonato, está faltando um antagonista mais interessante e talvez expandir esse submundo secreto em que todos os personagens parecem saber exatamente como tudo funciona, mas o espectador é mantido no escuro.

A fotografia varia um pouco entre os prédios e a chuva de Nova York, trazendo cor apenas numa passagem pelo deserto do Marrocos. O mais longo filme da franquia até o momento, tem também as cenas de luta e tiroteio mais extensas. São bem coreografadas, com efeitos visuais competentes, porém algumas são tão repetitivas que é quase inevitável não mexer no telefone no meio do filme.

Como mencionado em 2014, na crítica do primeiro filme, Keanu Reeves não sabia atuar na época e continua sem saber, mas sua reputação por ser fora das telas uma pessoa simples e escolher bons projetos (alguns) parece ser o suficiente para manter em alta seu carisma. Dacascos entrega uma atuação tão inconstante que parece um teste de elenco para o filme Fragmentado (Split, 2018). McShane, Fishburne e Huston são figurões cuja reputação os precede, todos seguros e confiantes. Berry traz a mesma confiança, mas ao contrário dos veteranos, precisa arregaçar as mangas junto a Keanu e se preparar para a guerra, caso queira ter paz.

Parabellum mostra que o personagem ainda tem muita lenha pra queimar e vai entreter os fãs da franquia e de filmes de ação. Mas terá que saber quando trocar as fichas e sair do cassino, pois está a um passo de se tornar John Wick: Veloz e Furioso. O filme é novo, mas não traz novidades.

A vingança chega a cavalo

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

View Comments

  • Voce fala que falta expandir o universo, mas expandir pra onde? Pros ETs? Pra outros planetas? Mais galáxias? Quem sabe se alem de ser uma rede internacional, for tambem interplanetaria, ne? ? No 1ro filme nós sabemos que ele é o melhor assassino do mundo. E o Universo dele parece pequeno, parece apenas ficar no submundo de Nova York. No segundo, é mostrado que ele na verdade era parte de uma rede internacional de bandidos que podiam ser contratados pelo mundo inteiro. Ai, eu te pergunto: pra onde falta o universo Wick expandir? Gostaria de entender pra onde voce quer essa expansão (apesar de achar que o 3 andou em circulos)

    • Primeiramente, peço desculpas pela demora em responder.
      Sim, o primeiro filme foca em John ser um grande assassino, não necessariamente o melhor do mundo, no segundo fica mais claro que a organização criminosa é global. Mas a expansão que mencionei não seria necessariamente geográfica, pois tanto no segundo quanto no terceiro filme temos cenas em outros países, como mencionei. A expansão seria de informações, o primeiro criou detalhes interessantes como uma moeda própria e os hotel "Continental". Para o terceiro filme de uma saga, teve pouca coisa nova, alguns personagens novos, mas isso criou mais perguntas do que respostas. Ao invés de mais detalhes do sub-mundo temos apenas mais tiros e mais lutas, talvez por isso andou em círculos, como você disse.
      Agradeço o comentário e continue a acompanhar as postagens do Pipoqueiro.

  • Cara, o segundo filme foi uma grande decepção. O terceiro, em que pese ter começado muito bem, amarrado com o que tinha acontecido no fim do anterior, acabou me cansando - justamente pelo excesso de lutas e repetições. Ao sair do cinema comentei que se diminuissem algumas sequências, além de dar uma enxugada de uns 30 minutos fácil, manteria o filme interessante. Aquela sequência na sala de vidro...afff......pedi para meu namorado me avisat quando acabasse. Já não estava aguentando o "pouca história e muita luta".

  • Bom dia,

    Esse filme ficou muito a desejar, só teve ação, sem história. Sai decepcionado do cinema.

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