Este também é um romance adolescente

por Marcelo Seabra

Mais um romance água com açúcar para adolescentes a chegar aos cinemas, O Sol Também É uma Estrela (The Sun Is Also a Star, 2019) tem seu diferencial na tentativa de mostrar seus protagonistas como pessoas inteligentes e engajadas, apesar da pouca idade, e na crítica ao movimento contra a imigração que os Estados Unidos vivem (e o mundo). Esses dois objetivos se perdem em diálogos decoradinhos e pretensiosos, coincidências mirabolantes e situações inverossímeis, contando apenas com o carisma do casal para se segurar.

A primeira coisa que causa estranheza é o título. Ele é explicado na trama, ok, mas não deixa de ser pré-fabricado e complicado de guardar. O livro que serviu como base, de mesmo título, é bem elogiado e muito vendido, e tem algo de autobiográfico. A autora, Nicola Yoon, não viveu as dificuldades retratadas, mas também é jamaicana e o marido, coreano. Ela é a responsável pelo livro que originou outro romance adolescente igualmente besta: Tudo e Todas as Coisas (Everything, Everything, 2017). A duas histórias têm muito em comum e o resultado é igualmente desastroso.

O Sol Também É uma Estrela nos apresenta a Natasha Kingsley (Yara Shahidi, de séries como Black-ish e Grown-ish), uma jamaicana que vive em Nova York há nove anos e vive seu último dia na cidade. Ela será obrigada, junto da família, a voltar a seu país de origem, mesmo que tenha construído sua vida nos EUA. Nesse dia tão tumultuado, ela cruza o caminho de Daniel Bae (Charles Melton, de Riverdale) e chama a atenção do rapaz – a razão é estapafúrdia! Quando os dois têm a chance de conversar, após coincidências que bem podem ser o destino agindo (!!!), descobrem que são perfis opostos. Enquanto ele é um romântico incorrigível, ela é pragmática e não acredita no amor. Ganha uma mariola molhada quem acertar o que acontece.

A cidade de Nova York se torna uma personagem, com a fotografia de Autumn Durald (de Teen Spirit, 2018) passeando por prédios, parques e ruas. Em suas andanças, o casal passa por várias paisagens e marcos interessantes, e fica clara a questão da família de ilegais morar bem longe do centro. Os coreanos, por serem legais, parecem ter um pouco mais de tranquilidade, mas ainda assim são sempre vistos como “de fora”. Mesmo tendo nascido lá. Com o presidente deles falando sempre mal de quem não é “americano puro” (como se isso existisse), é louvável que um filme levante essa peteca.

O problema é que a boa intenção da história cai por terra com soluções simplistas para situações que parecem ser complexas. Tudo o que envolve o advogado vivido por John Leguizamo (de John Wick 2, 2017), por exemplo, é absurdo, a começar pela forma como ele entra no quadro. E a preocupação de dar um pouco de profundidade para nos dois principais, já que todos os coadjuvantes parecem um poço de estereótipos. Shahidi e Melton têm sorrisos muito bonitos, mas o texto que sai de suas bocas não ajuda nada. Sem exageros, foi fácil ver gente dormindo ao olhar em volta no cinema. E era uma pré-estreia para convidados!

Os atores ajudam, mas o texto os trai

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é atualmente mestrando em Design na UEMG. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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