por Marcelo Seabra
Não está de todo errado quem correu de ver Bumblebee (2018) nos cinemas. Afinal, trata-se de um derivado (ou spin off) da modorrenta franquia Transformers, aquela bagunça visual comandada com mão de ferro por Michael Bay. Dá para deixar qualquer um desconfiado. Mas a decisão de focar esse episódio no simpático Fusca, com diretor e roteirista frescos, sem os vícios dos longas anteriores, deu um resultado bem razoável. Se não é uma obra de arte, ao menos passa longe da chatice esperada e vale uma espiada em serviços de streaming.
A premissa coloca os Transformers em guerra em seu planeta-natal, e os Auto-Bots estão levando um coro dos Decepticons. Por isso, o líder dos mocinhos, Optimus Prime, encarrega o jovem B-127 de verificar se a Terra daria condições a eles para se reagruparem e organizarem um contra-ataque. Aqui, o robô vai passar por poucas e boas, fará amizade com uma terráquea e vai acabar ganhando o apelido que carregou dali em diante: Bumblebee.
No papel que basicamente foi de Shia LaBeouf no filme de 2007, temos agora Hailee Steinfeld. Com saudades do pai, ela não se encaixa na nova estrutura familiar, com mãe, irmão e padrasto, e acredita que ter um carro resolveria muitos de seus problemas. Numa oficina de bairro, onde consegue peças para consertar um Corvette antigo, ela descobre um Fusca (ou Beetle) estacionado e consegue fazê-lo funcionar. Daí para descobrir que seu novo carro é na verdade um robô alienígena fugitivo é um pulo.
Steinfeld, cujo talento já foi comprovado em trabalhos como Bravura Indômita (True Grit, 2010) e Quase 18 (The Edge of Seventeen, 2016) segura bem a personagem, por mais maluco que seja o cenário. Ela tem um bom timing cômico e é igualmente competente nos momentos mais dramáticos. John Cena (de Na Mira do Atirador, 2017 – abaixo) é bem mais engessado, mas o militar que ele vive não exige muito. O outro destaque é Jorge Lendeborg Jr. (de Homem-Aranha: De Volta ao Lar, 2017), que forma uma dupla afiada com Steinfeld. No elenco humano, não temos mais participações especiais, como é costume na franquia, mas elas aparecem entre os dubladores dos robôs. Dylan O’Brien, Justin Theroux e Angela Bassett são as principais novidades.
Bay, que assina Bumblebee apenas como produtor, passou o comando para Travis Knight, um experiente animador que traz no currículo Coraline (2009), ParaNorman (2012), Os Boxtrolls (2014) e a direção de Kubo e as Cordas Mágicas (2016). Duas indicações ao Oscar de Melhor Animação (por Boxtrolls e Kubo) devem ter lhe dado moral para assumir um projeto dessa magnitude, e ele se mostra mais apto que Bay, entregando cenas mais fáceis de digerir e uma montagem menos frenético. Apesar de ser responsável pelo terrível Paixão Obsessiva (Unforgettable, 2017), aqui a roteirista Christina Hodson acertou bem o tom, explorando o carisma de seu robô principal e alternando vários sentimentos ao longo de quase duas horas.
Um expediente que sempre funciona é contar com músicas amadas pelo mundo. Como a trama se passa em 1987, medalhões desse filão desfilam, como Bon Jovi, Duran Duran, A-ha, Simple Minds e muitos outros. O destaque da trilha fica para The Smiths, que parece ser a banda favorita da garota. Morrissey, o líder dos Smiths, se comunicava muito bem com adolescentes, daí a preferência. Somando-se todos esses elementos, temos um resultado acima da média, que deu dinheiro suficiente nas bilheterias para garantir uma sequência. Mas não esperem muito: o produtor Lorenzo di Bonaventura disse que pretende aproximar o segundo da franquia original, demonstrando não aprender com os próprios erros.
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