por Marcelo Seabra
Chega aos cinemas essa semana mais um exemplo de idoso ranzinza com problemas familiares. O tipo que Clint Eastwood encarna tão bem dessa vez aparece em uma produção que a Cineart foi na Finlândia buscar para nós. O Último Lance (Tuntematon Mestari, 2018) é um drama que mistura negócios, relações familiares e um choque de gerações entre um avô que perde vendas para a internet e seu neto antenado, que usa o Google como um bom detetive. E isso dá uma mistura interessante.
A exemplo de A Mula (The Mule, 2018), para ficar no longa mais recente de Eastwood, esta nova atração nos cinemas tem como protagonista um senhor em seus 80 anos, distante da filha e neto, que se dedicou ao trabalho de uma vida e hoje vê a clientela secar. Com dificuldade de se adaptar aos novos tempos, o Sr. Olavi (Heikki Nousiainen) entende que fechar sua loja de obras de arte é inevitável. Mas ele se depara com um quadro misterioso e quer ter a satisfação de arrematar algo uma última vez, numa tentativa de lucrar e garantir a aposentadoria.
O jovem neto de Olavi está passando do limite entre rebelde e malfeitor. Otto (Amos Brotherus) precisa entregar um relatório de estágio de alguma empresa e, por ter sido pego roubando, ninguém o aceita. O último recurso é tentar o avô que ele mal conheceu, que poderia recebê-lo em sua loja e assinar o tal relatório. Desde o início, essa relação será marcada por altos e baixos, e acabamos conhecendo a mãe de Otto, Lea (Pirjo Lonka), uma mulher sofrida que se vira para criá-lo sozinha sem poder contar nem com o ex-marido, nem com o pai.
Passeando por Helsinki, a câmera de Tuomo Hutri nos dá uma impressão de que a capital está deixando Olavi pra trás, uma parte antiga sendo tomada pela modernidade. Hutri tem no currículo o trabalho mais famoso do diretor Klaus Härö, que também contou com a roteirista Anna Heinämaa: o elogiado O Esgrimista, de 2015. Härö evita sentimentalismos baratos e o roteiro bem amarrado de Heinämaa nos permite conhecer o suficiente dos personagens para nos importarmos com eles, e querer dar uma surra em um certo representante da casa de leilões.
A música de Matti Bye, que evoca grandes nomes do passado, dá o tom em diferentes momentos, das notas mais discretas às mais majestosas. E o elenco, famoso em sua Finlândia natal, é bem afinado e honra o texto. O Último Lance não é exatamente inovador, chocante, nem mesmo otimista. As peças simplesmente se encaixam. É uma boa forma de se gastar uns cem minutos, acompanhando personagens tridimensionais que rapidamente captam sua atenção.
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