Super-Homem espanhol chega à Netflix

por Marcelo Seabra

Com tantos super-heróis chegando ao Cinema, era de se estranhar não haver mais paródias, já que elas costumam acompanhar modismos. A Netflix acaba de contribuir com essa causa disponibilizando uma produção que fez grande sucesso nas salas da Espanha. Superlópez (2018) é uma comédia despretensiosa que estreou em seu país no final no último novembro e emplacou a segunda maior bilheteria do ano de uma produção nacional.

A engraçada proposta de ter um Super-Homem espanhol surgiu em 1973 nas mãos do quadrinista Jan, nome artístico de Juan López Fernández. O personagem foi criado para uma tirinha cheia de humor e duplos sentidos e foi muito bem recebida, ganhando mais espaço e mais coadjuvantes. Em 2003, foi feito um curta de animação com ele, e era questão de tempo até termos uma versão de carne e osso.

No Cinema, Superlópez ganhou o rosto de Dani Rovira, com Julián López, Alexandra Jiménez e Maribel Verdú nos papéis principais. Juan nasceu em outro planeta, de um experimento científico, e antes que caísse nas mãos do ditador de Chitón (gíria local para “cala a boca”), é despachado pelos pais para a Terra, mais especificamente os Estados Unidos – destino que parece óbvio, eles reforçam. Mas um acidente de percurso o desvia para Barcelona, onde ele cresce disfarçando seus poderes extraordinários e levando uma pacata vida de escritório.

Em apenas um dia, o colega de Juan, Jaime (López), o apresenta à nova colaboradora, Luisa (Jiménez), e nosso herói para um trem desgovernado, o que chama a atenção da mídia. Outra que presta atenção é Ágata Muller (Verdú), a filha do tal ditador que seguiu Juan e esperou todos esses anos para levá-lo de volta e orgulhar o pai. A partir daí, temos situações engraçadas, leves, que chegam até a fazer piada com o fato de se tratar de uma produção espanhola, já que não há heróis no país.

Também são exploradas as características mais peculiares dos super-heróis dos quadrinhos, como eles terem um uniforme e a troca sempre ocorrer rapidamente. O diretor, Javier Ruiz Caldera, tem experiência com paródias (como Anacleto: Agente Secreto, de 2015), e seus roteiristas, Diego San José e Borja Cobeaga, sabem bem conduzir as coisas, dando ênfase ao que julgam importante e deixando o resto de lado. As filmografias deles envolvem vários projetos em comum, o que explica a cumplicidade entre eles.

O elenco é todo bem afiado, com destaque para os cômicos pais adotivos de Juan, vividos por Gracia Olayo e Pedro Casablanc, e para o ditador General Skorba (Ferran Rañé), um vilão sempre muito educado. Sem precisar de efeitos especiais caros ou nomes de grande apelo no elenco, Superlópez consegue divertir por uma hora e meia mantendo um bom nível nas piadas e situações, brincando e ao mesmo tempo homenageando suas fontes. E isso já é mais que a maioria das comédias de Hollywood conseguem.

A equipe celebra a estreia nos cinemas espanhóis

Marcelo Seabra

Jornalista e especialista em História da Cultura e da Arte, é mestre em Design na UEMG com uma pesquisa sobre a criação de Gotham City nos filmes do Batman. Criador e editor de O Pipoqueiro, site com críticas e informações sobre cinema e séries, também tem matérias publicadas esporadicamente em outros sites, revistas e jornais. Foi redator e colunista do site Cinema em Cena por dois anos e colaborador de sites como O Binóculo, Cronópios e Cinema de Buteco, escrevendo sobre cultura em geral. Pode ser ouvido no Programa do Pipoqueiro, no Rock Master e nos arquivos do podcast da equipe do Cinema em Cena.

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